1. O Mundo e a Europa estão a enfrentar um conjunto de desafios que seriam impensáveis há uns anos.
Basta lembrar o confinamento originado pelo Covid 19; a crise energética iniciada há alguns meses e agora agravada; a seca extrema meteorológica que tem assolado alguns países do sul da Europa, nomeadamente Portugal; e nas últimas semanas uma guerra em território europeu.
Ao longo de todos estes momentos de tensão, a capacidade de abastecimento alimentar nunca falhou e foi, aliás, um dos fatores essenciais para mitigar uma eventual escalada do conflito social, dentro dos Estados Membros da União Europeia (UE).
Contudo, a invasão da Ucrânia pela Rússia parece ter alterado drasticamente a estabilidade alimentar (entre outras), podendo ocorrer falhas temporárias no abastecimento e uma nova pressão nos preços dos alimentos.
A impossibilidade da Ucrânia e da Rússia fornecerem o mercado de produtos para transformação agro-alimentar, cereais e oleaginosas, conduzirá a um novo e imprevisto desafio que não imaginávamos viver.
A guerra também chegou à alimentação.
Se relativamente aos trigos panificáveis, que Portugal produz apenas cerca de 5% das suas necessidades, as importações de França continuam acessíveis apesar dos preços bastante elevados para a bolsa do consumidor nacional (a farinha de trigo pode, dentro de um mês, atingir o dobro do valor que tinha há um ano), no caso da alimentação animal o contexto é diferente e torna-se extremamente preocupante.
Esta nova realidade impede, por exemplo, que Portugal importe aproximadamente 30 milhões de toneladas de cereais da Ucrânia que terão de se compensar noutras geografias ou com produtos alternativos.
Os países europeus que poderiam ser a opção face às importações de milho da Ucrânia recusam-se a vender, por forma a garantir a sua autossuficiência nos tempos futuros, o que nos remete para mercados transatlânticos como Brasil, EUA, Canadá ou Argentina. Porém, essa mudança comporta dificuldades acrescidas como os custos de transporte (maiores agora com a crise energética), as restrições impostas pela Europa aos Organismos Geneticamente Modificados (OGM) ou os Limites Máximos de Resíduos (LMR).
Estamos, pois, perante um panorama onde os Estados-Membros e a UE, no seu todo, têm de agir com urgência.
São […]