Portugal, afetado por uma seca severa, aproveita menos de 20% dos recursos hídricos (água da chuva, aquíferos, rios e outros) e que a aposta na dessalinização deve ser estudada, alerta Gabriela Cruz, presidente da Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo (APOSOLO). A associação organiza, em parceria com o Negócios, a conferência O Futuro da Agricultura no Contexto Europeu, que se realizará a 6 de julho, em Lisboa.
A engenheira agrónoma e mestre em gestão agrícola Gabriela Cruz fala de um futuro que passa necessariamente por uma agricultura sustentável e com viabilidade económica, bem como da importância da agricultura de conservação para uma melhor gestão dos solos. Na entrevista ao Negócios, a presidente da APOSOLO lembra ainda que Portugal é um dos países europeus em estado de seca severa e, como tal, tem de aproveitar melhor os seus recursos naturais porque sem água não há futuro para a agricultura. A APOSOLO organiza, em parceria com o Negócios, a conferência sobre o Futuro da Agricultura no Contexto Europeu, que se realizará no próximo dia 6 de julho, em Lisboa.
A agricultura sustentável tem futuro e permite suprir as necessidades alimentares de um mundo superpopuloso?
Sim, a agricultura sustentável tem futuro e é uma das nossas prioridades. A sustentabilidade agrícola pode ser medida de várias maneiras, não só do ponto de vista ambiental. Uma das componentes que é também essencial assegurar é a viabilidade económica. A outra é a componente social. A guerra veio demonstrar o quão importante é assegurar a soberania alimentar das nações, bem como a vida do mundo rural e dos territórios de cada país, sendo que aqui as práticas de agricultura de conservação terão um papel fundamental. Para nós, o essencial é encontrar um equilíbrio que conjugue todas estas preocupações. Não podemos querer alterar apenas uma. Temos de proteger o ambiente ao mesmo tempo que produzimos alimentos para todo o mundo, garantindo que o agricultor lucra com a sua atividade. A sustentabilidade agrícola deve conjugar todas estas dimensões, incluindo a aceitação social.
A agricultura de conservação pode ser a resposta a nível ambiental e económico? De que forma?
A agricultura de conservação tem dado provas da sua extrema importância para a produção eficiente de alimentos a uma escala global, sendo uma ferramenta preponderante na gestão dos solos, cada vez mais degradados. Esta prática agrícola é um instrumento decisivo para o futuro da agricultura, tendo em conta que potencia uma melhor gestão dos solos, dos recursos hídricos e da biodiversidade, especialmente através do seu contributo direto para a redução das emissões de gases de efeito estufa e, ainda, para o sequestro de carbono. De forma simples, a agricultura de conservação, que é também ela uma agricultura regenerativa, implica uma perturbação mínima dos solos, com uma utilização reduzida de alfaias agrícolas pesadas, o que lhe permite manter matéria orgânica que permite conservar e até melhorar a fertilidade do solo. Desta forma, a produtividade da água de rega e dos fatores de produção será superior. Deixe-me dizer-lhe que atualmente, e num momento em que se discutem a nível europeu iniciativas como aquela que promove a redução de produtos fitofarmacêuticos, é importante lembrar que a agricultura de conservação recorre ao uso de herbicidas para o controlo de infestantes, como alternativa ao controlo mecânico. Em resultado, existe uma menor movimentação dos solos e, dessa forma, não só se obtém uma maior fertilidade dos mesmos como um maior sequestro de carbono. Alternativas mecânicas, além de prejudicarem a fertilidade dos solos, libertam mais gases para a atmosfera e contribuem para a respetiva degradação dos solos.
Existem soluções para enfrentar este problema, como […]