A aldeia de Vale de Telhas, no concelho de Mirandela, recria no domingo a lagarada romana e lança o desafio aos produtores de vinho locais para apostar neste nicho, disse hoje à Lusa Sónia Mota, membro da junta de freguesia, que organiza o evento.
Este é o segundo ano em que fazem esta recriação. “Nós chamávamos-lhes lagaretas, mas são lagares escavados na rocha do tempo romano. Que nós saibamos, são três. Um é numa área pública, que pertence à freguesia, ao povo”, explicou Sónia Mota.
No ano passado, não se ficaram só pela recriação no lagar rupestre, com as técnicas datadas de há mais de dois mil anos, mas também produziram o vinho.
“Temos muita vinha [na freguesia]. O vinho chama-se Pineto, que é o nome do nosso castro romano. Fizemos 300 litros de vinho branco, 300 de rosé e 300 de tinto”, contou ainda Sónia Mota.
Este ano, foram convidados os produtores de vinho do concelho de Mirandela. “Queremos fechar o ciclo do vinho Pineto. Convidámos todos os produtores de vinho do concelho e queremos lançar-lhes o desafio que sejam eles a agarrar agora este nicho de mercado, que já existe. Nós não vamos voltar a produzir. Mas, quem quiser, pode produzir no nosso lagar”, disse à Lusa Sónia Mota. Seis produtores já confirmaram a presença.
O vinho feito nestes lagares adquire características diferentes. “É um vinho feito em bica aberta. Não tem muita fermentação. É um vinho que não tem qualquer produto adicionado. É biológico, se assim quiser, mas que está considerado como vinho regional transmontano”, explicou Sónia Mota.
Durante muitos anos, as pessoas sabiam da existência destes lugares arqueológicos e a sua finalidade mas “nunca foram bem explorados”, contou. Por isso, resolveram recriar esta tradição.
“Tivemos aqui alguns arqueólogos. Tentámos fazer de acordo com aquilo que nos foram dizendo. Iniciámos o percurso no início da aldeia, onde há dois anos plantámos uma pequena vinha, que este ano já tem uvas. Vamos vindimá-la. O povo veste-se à época romana. Depois, vamos para o lagar, onde vamos fazer o pisa a pé”, adiantou Sónia Mota. A experiência é aberta a visitantes. Segue-se uma caminhada e um almoço temático.
Na freguesia, existem vários vestígios de ocupação romana, que esperam assim valorizar. “É uma forma de nós levarmos o nome Pineto mais longe e dar a conhecer a freguesia. E, por, isso decidimos fazer esta recriação. Porque nos identificamos com os romanos”, afirmou Sónia Mota, que enumerou ainda os indícios da presença romana na freguesia: “temos marcos miliários, temos uma ponte romana e temos várias casas com fundações romanas”.
Agora, pretendem continuar a explorar a História, com a ajuda de especialistas.
“A nossa ideia é termos a noção de como seria aquele lagar (o que está em espaço público). Queremos colocar, em 3D, como aquilo seria. Os arqueólogos conseguem ter uma noção. Não temos nenhum registo aqui na freguesia”, indicou Sónia Mota.
Outro objetivo é potenciar o turismo e os vinhos de Trás-os-Montes. “É um dia diferente, em família. Podem vindimar. Podem pisar uvas. (…) Na aldeia, toda a gente o fazia. Hoje em dia, já não é uma experiência fácil de encontrar. Queremos tentar trazer algumas pessoas à nossa região. Até que possam ficar cá a dormir e passar um fim de semana diferente”, explicou ainda Sónia Mota.