A Associação de Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (ARBCAS), em Santiago do Cacém (Setúbal), alertou hoje para as consequências da seca neste território, lamentando a falta de diálogo com o Governo para mitigar os seus efeitos.
“Fizemos um cálculo [dos prejuízos] que entregámos em documento ao secretário de Estado [da Agricultura] e por ano, nesta realidade, são cerca de nove milhões de euros que não circulam no território” devido à seca, precisou o presidente da direção da ARBCAS, Rui Veríssimo Batista, na comissão de Agricultura e Pescas, na Assembleia da República, em Lisboa.
Durante uma audição parlamentar sobre as implicações da seca na zona de Campilhas e Alto Sado, o responsável reconheceu que “não tem sido fácil” passar a “mensagem” ao Governo, apesar dos vários ofícios enviados à Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural.
“Esta associação é a que tem provavelmente a situação mais crítica de falta de água, de impacto das alterações climáticas e de alguma falta de intervenção por parte do poder político, porque até agora ainda não tivemos qualquer intervenção no sentido de apoio para que as coisas possam mudar”, criticou.
Segundo o responsável, este ano a albufeira de Campilhas, que “praticamente não tem rega”, vai “apenas acudir a um ou outro problema, uma ou outra vinha ou pomar, um ou outro hectare de arroz ou de outra cultura”.
A ARBCAS fornece água para rega em 6.000 hectares no concelho de Santiago do Cacém e nos municípios de Odemira e Ourique, no distrito de Beja, através de várias albufeiras, como Campilhas e Monte da Rocha.
Na audição na comissão parlamentar, o responsável explicou ainda que, devido à seca, a associação já comprou mais de dois milhões de euros de água à Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA).
“Toda a água que compramos à EDIA, excetuando este ano, é água que cria prejuízo na associação”, assegurou o dirigente, acrescentando que durante anos a ARBCAS “criou uma bolsa financeira” que, entretanto, “esgotou”, enfrentando agora “uma situação económica aflitiva”.
Perante o atual cenário de dependência “exclusiva da água vinda de Alqueva”, a associação “não tem outra forma a não ser taxar brutalmente os seus agricultores para conseguir sustentar os postos de trabalho”, reconheceu.
“Tivemos um brutal aumento da água, convidámos o diretor geral [de Agricultura e Desenvolvimento Rural] para estar presente na reunião, porque é de facto um desequilíbrio enorme entre os agricultores da nossa região, e nem resposta tivemos”, lamentou, acrescentando que, “se eventualmente a EDIA aumentar os preços da água em cerca de 100%, a associação não tem outro caminho a não ser fechar”.
“Não podemos aumentar mais a água para o triplo ou para o quádruplo porque a maior parte das culturas anuais, como o arroz e o tomate, culturas que mexem com muitos pequenos agricultores não têm capacidade para serem viáveis”, salientou.
Ainda em resposta aos deputados na comissão de Agricultura e Pescas, os dirigentes da ARBCAS esclareceram que, entre outras medidas, a associação pretende solicitar à ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, “uma moratória à água de Alqueva” e “a declaração de calamidade para Campilhas e Alto Sado”.
“Deixe-nos respirar, esperar que venham eventualmente novos anos para ter a tesouraria mais equilibrada, fazer os investimentos que são absolutamente necessários na manutenção da infraestruturas e manter os postos de trabalho”, frisou.