A subida da temperatura nos termómetros da Europa está a suplantar em duas vezes a média global, naquela que constitui mesmo a evolução mais rápida de todos os continentes. É o que mostra o relatório “Estado do Clima Europeu 2022”, do Serviço de Monitorização de Alterações Climáticas Copernicus, divulgado esta quinta-feira.
O ano passado foi o segundo mais quente no Velho Continente desde que são produzidos registos – 0,9 graus Celsius acima da média. As temperaturas do verão foram as mais quentes de sempre, excedendo a média em 1,4 graus Celsius.
De acordo com o relatório do sistema Copernicus, as vagas de calor abateram-se, em 2022, sobre a maior fatia da Europa ocidental. No Reino Unido, pela primeira vez, as temperaturas foram superiores a 40ºC. E nas massas oceânicas europeias os registos apontam para os números mais elevados da temperatura média à superfície.“A Europa teve o verão mais quente desde que há registo, agravado por diversos eventos extremos, como ondas de calor intensas, condições de seca e extensos incêndios florestais”, lê-se no relatório “Estado do Clima Europeu 2022”.
A par do aumento das temperaturas, a Europa debate-se com a crescente tendência de um maior número de dias de verão com “stress de calor forte” ou “muito forte”. No sul do continente, assiste-se a um estado de “stress de calor extremo”.
No relatório, são também sinalizados os reflexos do calor extremo no final da primavera e no verão sobre a saúde das populações, em particular, uma vez mais, no sul da Europa.
“Seca generalizada”
A seca foi um dos eventos mais importantes a atingir a Europa no ano passado, com boa parte do continente a registar, durante o inverno, índices de queda de neve inferiores à média em 30 dias. Na primavera, a chuva ficou igualmente aquém da média em grande parte do território europeu, em particular em maio, mês em que se verificou o mais baixo índice de precipitação desde que há registos.
A falta de neve durante o inverno e as temperaturas escaldantes do verão, aponta o relatório, levaram a um recuo sem precedentes do gelo nos glaciares dos Alpes: mais de cinco quilómetros cúbicos.
“A baixa precipitação, que se manteve durante todo o verão, aliada às excecionais vagas de calor, provocou também uma seca generalizada e prolongada que afetou vários setores, como a agricultura, transportes fluviais e energia”, lê-se no documento.A humidade nos solos foi, em 2022, a segunda mais baixa em cinco décadas. O ano passado foi o mais seco de sempre, com 63 por cento dos rios a apresentarem caudais inferiores à média.
Ainda segundo o Copernicus, as emissões totais de carbono dos países da União Europeia para o verão de 2022 foram as mais altas desde 2007. França, Espanha, Alemanha e Eslovénia registaram os valores mais altos em 20 anos.
A subida das temperaturas no Ártico fez de 2022 o sexto ano mais quente desde que há registo: a região mais afetada por esta evolução foi o arquipélago norueguês de Svalbard, que teve o verão mais quente de sempre, com temperaturas acima da média em 2,5 graus Celsius.