O projeto Global Field, que replica a produção agrícola mundial em dois mil metros quadrados, pretende instalar-se em Odemira com foco na água, disseram à Lusa vários responsáveis, após uma nomeação para os prémios Novo Bauhaus Europeu.
“A ideia é que este espaço do Global Field [campo global] possa ser localizado num espaço facilmente acessível ao público, mais centralizada, e é esse debate que vamos iniciar agora, entre setembro e outubro”, disse à Lusa o coordenador português do projeto, Diogo Coutinho, da associação Project Earth.
O objetivo é que o futuro campo seja um “‘playground’ [recreio] educativo, de sensibilização, de diálogo e de debate onde se podem proporcionar uma série de conversas sobre água, sobre solo, sobre biodiversidade e sobre comunidade, nas suas várias dimensões”.
O projeto replica o modelo dos Campos Globais iniciado pela fundação alemã Zukunftstiftung (Fundação para o Futuro) no bairro de Pankow, em Berlim, que se replicou em vários outros países, mas também na Alemanha, como é o caso de Rothenklempenow, no estado de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental (nordeste).
O projeto de Rothenklempenow, do Centro Regional de Especialização em Educação para o Desenvolvimento Sustentável da Lagoa de Estetino (RCE Stettiner Haff), está nomeado para o prémio do tema “Formar um ecossistema industrial circular e apoiar pensamento sobre o ciclo da vida”, na categoria “Campeões da Educação” do Novo Bauhaus Europeu, iniciativa da Comissão Europeia lançada em 2021.
O RCE Stettiner Haff incluiu na sua candidatura a realização de uma residência no Jardim do Mira, outra associação portuguesa envolvida neste projeto, sendo assim um dos seis projetos portugueses finalistas na cerimónia de atribuição dos galardões, marcada para quinta-feira, em Bruxelas.
Benedikt Härlin, da Zukunftstiftung, explicou que a “primeira ideia do Campo Global foi criar uma miniatura da agricultura mundial”, através de um cálculo de divisão de 1,5 mil milhões de hectares por 7,5 mil milhões de habitantes do planeta, que faria com que “cada pessoa tenha mais ou menos dois mil metros quadrados de terra” para cultivar, se houvesse uma distribuição de terreno equitativa.
Assim, um campo deste tipo é composto por “muito milho, muito trigo, muita soja, muitos outros cereais, e só 5% são necessários para vegetais e mais 5% para as frutas”, garantiu Benedikt Härlin.
Diogo Coutinho referiu que quer o projeto alemão ganhe ou não o prémio europeu, isso “não tem relação” direta com a implementação em Portugal do Campo Global, que prosseguirá de qualquer forma.
“Está definido que será em Odemira, mas o local exato não está definido”, disse ainda o responsável, que também se aliou ao Jardim do Mira para este projeto, que replica o modelo alemão.
Já Anja Henckel trabalhou com a RCE Stettiner Haff durante três anos e agora está em Portugal para tentar implementar o Campo Global, já que não há nenhum no sul da Europa.
A responsável explicou que o campo de Rothenklempenow “é um entre tantos diferentes, e dependendo de onde estão funcionam de forma distinta”, existindo, segundo Benedikt Härlin, em Xangai (China), Deli (Índia), Gilgil (Quénia), três na Suíça, três na Áustria, um no Luxemburgo, outro no Liechtenstein e 12 na Alemanha.
Em Rothenklempenow, “vê-se quanto é que um porco e uma vaca precisam de comer se não forem alimentados com ervas, e por outro lado vê-se as vacas ano campo a comer naturalmente”, observa, permitindo uma comparação entre modos sustentáveis de produção e outros.
Os galardões Novo Bauhaus Europeu visam distinguir projetos ambientais, económicos e culturais que combinem sustentabilidade, acessibilidade de preços e investimento, para enquadrar a transição climática e a mudança cultural, como propõe o Pacto Ecológico Europeu, tendo este ano sido selecionados 61 finalistas.