“Não há açambarcamento, mas as pessoas estão a comprar mais porque sabem que vai haver um aumento de preços.” ASAE investiga cerca de uma dezena de denúncias de preços especulativos
“Neste momento, não há escassez de produtos” nos supermercados portugueses. A garantia é de Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, que assegura que, apesar de haver racionamento de óleo e farinha em algumas superfícies comerciais, não estamos na iminência de ruturas de stocks. “Nem se trata neste momento de racionar, há um limite ao número de artigos que pode ser adquirido pelo cliente”, atalha, lembrando que a legislação portuguesa prevê a medida de racionamento se o retalhista estiver “perante um consumo inusitado e com contornos de açambarcamento”.
Mas foi precisamente isto que aconteceu com o óleo alimentar, sobretudo nos dias que se seguiram ao início da invasão russa da Ucrânia, país exportador de óleo de girassol: as cadeias de supermercados decidiram racionar o produto, com a justificação de garantir o normal funcionamento e garantir que o óleo não voava das prateleiras. Um “epifenómeno”, garante o diretor-geral da APED, semelhante ao que aconteceu no início da pandemia com o papel higiénico. “Temos stock de óleo para os próximos meses, mas não estávamos preparados para que, de repente, lojas que vendiam 100 litros de óleo por dia passassem a vender 400”, explica, admitindo que existe um problema de fornecedor de óleo a breve prazo “porque a matéria-prima vem sobretudo da Ucrânia”, mas garante que as cadeias de distribuição estão já a organizar-se para ir buscar óleo a outras geografias, nomeadamente à América e África do sul.
“Neste momento, não temos indicação nenhuma por parte dos nossos retalhistas de problemas na cadeia de abastecimento”, sublinha. E lembra que o “fenómeno do óleo” terá sido potenciado pela situação em Espanha, onde o governo decidiu autorizar de forma excecional e temporária uma limitação das vendas de produtos porque a guerra na Ucrânia, aliada a uma greve de motoristas de pesados, fez esgotar alguns produtos nas prateleiras, nomeadamente ovos, leite, farinha e, naturalmente, o óleo de girassol.
Em Portugal, garante Lobo Xavier, após um período inicial de grande compra de óleo, a situação nos supermercados parece estar “normalizada”, ainda que o consumo permaneça acima do que seria habitual, em resultado de uma espécie de estratégia de poupança das famílias: “Não há açambarcamento, mas as pessoas estão a comprar mais porque sabem que vai haver um aumento de preços”, explica. “Querem comprar ainda ao preço antigo.”
E os preços vão continuar a subir. Segundo o diretor-geral da APED, “todos os estudos indicam que o custo dos produtos alimentares vai aumentar nos próximos tempos até 30%, é um reflexo dos tempos que estamos a viver, depois de uma pandemia, de uma seca generalizada, no caso português, e do conflito com a Ucrânia”, resume Gonçalo Lobo Xavier.
Supermercados garantem que não falta nada
A CNN Portugal questionou algumas das maiores cadeias de supermercados a operar no país para saber se há escassez de produtos ou se está a ser ponderado racionamento noutros bens para além do óleo alimentar e da farinha, cujas vendas estão limitadas.
Numa resposta por escrito, a Sonae MC, dona do Continente, garante que nos entrepostos “não há falta de nenhum bem essencial, pelo que a distribuição para as lojas está a decorrer normalmente”, e garante que, além do óleo alimentar – cuja venda está limitada a seis litros por cliente em cada compra – as lojas não estão a limitar a venda de produtos. Mas deixa um alerta: “O Continente apela à compreensão dos seus clientes para a situação que se vive, resultado do conflito militar a decorrer na Ucrânia.”
A marca garante ainda que tem procurado alternativas, “inclusive de matéria-prima noutros mercados, por forma a garantir que não haja qualquer falta de produtos nas lojas Continente”, e que está “empenhada em assegurar a estabilidade das cadeias de fornecimento […]