O consumo de alimentos, a mobilidade e a economia circular são os fatores ambientais que mais contribuem para o aumento da pegada ecológica em Portugal. E se a Humanidade tivesse o mesmo estilo de vida dos portugueses, seriam precisos quase três planetas para “alimentar esta voracidade por recursos naturais”. Susana Fonseca, da associação ambientalista Zero, considera que “estamos a prejudicar-nos a nós próprios” e alerta que “a qualidade de vida vai diminuindo à medida que o planeta fica sob maior pressão”.
Portugal passou a viver a “crédito ambiental” a partir do dia 7 de maio, o que quer dizer que, se a humanidade vivesse como os portugueses, seriam precisos 2,9 planetas para sustentar as necessidades de recursos. Os dados sobre a pegada ecológica portuguesa são da associação ambientalista Zero, em parceria com a Global Footprint Network. Susana Fonseca, da Zero, compara a pegada ecológica a “um extrato bancário que nos dá a indicação das despesas e dos rendimentos”.
“A pegada ecológica acaba por avaliar as necessidades que nós temos em termos de recursos”, explica. “Acaba por medir o uso do solo, das florestas, das pastagens, das áreas de pesca, todo um conjunto de recursos que nós necessitamos e depois, por outro lado, a capacidade de absorção dos resíduos que resultam da nossa atividade”, sublinha.
Este é um conceito que se “associa” à ideia de “biocapacidade”, ou seja, “a capacidade que cada país tem de nos dar os recursos de forma equilibrada e sustentável”. “Cada país tem uma biocapacidade específica”, afirma, dando o exemplo do Brasil, que tem “uma capacidade de processamento de poluição muito superior”, algo que tem a ver com “as suas características”.
“A biocapacidade acaba por ser um conceito muito importante para depois ligarmos a pegada [ecológica] no sentido daquilo que é o nosso impacto. Quanto maior o nosso impacto, maior necessidade de biocapacidade temos, não só nos recursos que nos são dados, mas também na capacidade para absorver o impacto da utilização desses recursos”, refere Susana Fonseca.
Portugal esgota recursos a 7 de maio: o que é que isto significa?
A especialista da associação Zero indica que, a 7 de maio, Portugal, “com o seu nível de produção e consumo, esgotou a sua quota-parte dos recursos que tinha à disposição”.
“Se toda a humanidade vivesse como nós vivemos em Portugal, a partir de 7 de maio todos nós estaríamos, de facto, a utilizar recursos que só deveríamos mobilizar a partir de 1 de janeiro do próximo ano. Neste cenário, se todos vivessem como nós seriam necessários [quase] três planetas para alimentar esta voracidade por recursos naturais”, alerta Susana Fonseca.
No entanto, o dia da sobrecarga a nível mundial “é diferente”, porque “há países que consomem mais recursos e países que consomem menos”. O mundo atinge esse momento, normalmente, a meados de julho, relembra.
Ainda assim, a especialista defende que “já estamos a sofrer as consequências do uso desequilibrado dos recursos”, tornando cada vez mais evidentes problemas como as alterações climáticas, a perda de biodiversidade, a poluição e a escassez de recursos. “Tudo isto são reflexos da nossa utilização de recursos demasiado intensiva para aquela que é a biocapacidade mundial, ou seja, a capacidade que o planeta tem de nos proporcionar […]