Nasceu a noite passada.
– Parece um dálmata!
Pois fica batizada Dálmata. Tem o número de casa 741 e o número oficial a terminar em 9204. Já tem brinco e está registada porque hoje era o dia de contraste (controlo) leiteiro e o Sr. Maia, contrastador, é também agente identificador. Antigamente o Sr Maia teria uma trabalheira a desenhar todas aquelas pintas (cada vaca holstein tem um desenho diferente, como se fosse impressão digital). Agora tem uma aplicação no telemóvel e tira uma foto e em pouco tempo o animal está registado na base de dados do SNIRA – Sistema Nacional de identificação e registo animal.
Esta vitela nasceu sem precisar de ajuda. 70% dos partos aqui na vacaria não precisam de ajuda. Sorte? Tive um professor que escrevia sempre no fim dos testes: “Boa sorte. A sorte sorri aos que estudam”. É preciso muito trabalho para não abusar da sorte.
Antigamente os partos das vacas eram mais difíceis. Hoje, graças à inseminação artificial, ao trabalho do Sr. Maia e de muitos como ele em todo o mundo, podemos utilizar na reprodução das vacas “touros de parto fácil”, isto é, cujas crias são mais pequenas ao nascer. Isso é o resultado da recolha e registo de dados para ir melhorando a raça escolhendo os melhores exemplares de geração em geração.
Além disso, na inseminação artificial podemos usar “sémen sexado”, com 90% de hipótese de nascer fêmea, e as fêmeas são quase sempre mais pequenas e de parto mais fácil.
Pelo contrário, ter um touro de cobrição numa vacaria seria perigoso para vacas e para os tratadores. Se os animais estiverem em regime extensivo, sempre em pastagem, pode ser diferente e ser o esse o método mais indicado, mas para a produção de leite a inseminação artificial foi um grande avanço, que se vulgarizou talvez há 50 anos.
Lembro-me de ter quatro ou cinco anos quando veio do Porto, com o vidro do carro partido (por isso me lembro) o inseminador dos serviços oficiais num volkswagen carocha azul. Hoje os inseminadores são os produtores ou funcionários de empresas privadas ou cooperativas. Um avanço na melhoria genética dos animais, na produção, no bem-estar animal e no bem-estar dos criadores.
#carlosnevesagricultor
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.