A representante das mulheres horticultoras da Guiné-Bissau pediu hoje ao Estado terra para cultivar e condições para trabalharem nos campos aquelas que são “pilar” e “sustento” no país, onde 30% da população vive em pobreza extrema.
Ermelinda Pedro Mendonça é também secretária-executiva de um projeto agroecológico que envolve mais de 300 mulheres, na Granja de Pessubé, em Bissau, com o apoio do PNUD, o programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
O projeto foi destacado hoje como exemplo no dia Internacional para a Erradicação da Pobreza pela representante residente do PNUD, Alessandra Casazza, e os resultados da parceria reconhecidos pelas beneficiárias, que pedem apoio do Estado.
Da Granja saem alguns dos legumes que todos os dias as mulheres vendem nas ruas de Bissau, mas precisam “de mais campo” e pedem por isso ao Estado que atenda os pedidos das mulheres horticultores de mais terra para cultivar.
Pedem também ajuda para vedar o perímetro dos campos cultivados, de forma a evitar o furto de legumes, e “escola de alfabetização em todos os lugares onde as mulheres horticultoras estão a trabalhar”.
“Estas mulheres nunca abandonariam o país para ir trabalhar noutro país, por isso o Estado tem que nos dar atenção, que nos valorizar, que não nos despreze porque nós contribuímos para pagar impostos e é com esses impostos que a Guiné paga salários, incluindo até dos filhos que formamos, graças ao nosso trabalho”, disse a representante.
“E constatamos que a pobreza está a diminuir com o nosso próprio esforço porque nós também estamos a contribuir para o bem-estar do país”, insistiu.
A terra da Guiné-Bissau é fértil, qualquer semente germina, mas faltam reservas para guardar a água das chuvas abundantes para regadio, estufas para ter sempre legumes e condições para conservar os produtos, como enumerou.
Há muito que estas mulheres pediam também por um espaço para transformação de produtos, que inauguraram hoje e onde fazem, por exemplo, caldos naturais para cozinhar.
“Agora imploramos para que este conhecimento não fique só por aqui, que possa ser multiplicado e que outras pessoas possam ter esse conhecimento”, apelou, vincando que o objetivo é que o projeto se expanda e que outras mulheres possam beneficiar dele.
A maior parte das famílias guineenses é sustentada pelas mulheres que trabalham no campo e que “conseguem garantir o sustento do lar e principalmente o pagamento da propina escolar das crianças, como salientou Maneque Correia da Silva, presidente da Rede Nacional de Jovens Mulheres Líderes da Guiné-Bissau.
A dirigente daquelas que é uma das organizações parcerias do projeto, destacou que este está a conseguir, além de apoiar as mulheres a poderem ter o seu próprio rendimento, fornecer-lhes ferramentas digitais, através de cursos de informática.
O projeto também visa contribuir para abandonar práticas agrícolas com uso de substâncias químicas prejudiciais ao ambiente e às pessoas.
Estas ações arrancaram em 2022 e ainda não há um banco de dados com registo de saída de produtos e valor dos rendimentos, uma lacuna para preencher mais adiante, como disse.
A ministra da Ação Socil, Família e Promoção da Mulher, Cadi Seide, o esteve hoje com estas mulheres e prometeu que a atenção do Governo para os apelos que ouviu no programa que vai ser discutido, em novembro, na Assembleia Nacional Popular.
Os projetos com as mulheres horticultoras para erradicar a pobreza fazem parte de um programa com vários eventos, que decorre até 31 de outubro, para assinalar o Dia da ONU (Organização das Nações Unidas) na Guiné-Bissau.