Estudo mostra que são necessárias medidas para garantir integridade dos mercados voluntários de carbono que prometem conservação de florestas. Há créditos de carbono com impacto oposto ao garantido.
Os mercados de carbono são apontados como uma ponte promissora para ligar projectos de mitigação de emissões e de conservação de biodiversidade a potenciais financiadores interessados em “compensar” as emissões das suas empresas ou países. Contudo, um estudo conduzido por investigadores de vários países traz novos indícios de que estas compensações voluntárias através de créditos de carbono têm projecções sobrestimadas e nem sempre garantem que os créditos relacionados com redução da desflorestação estejam, efectivamente, a corresponder à preservação dos territórios e aos prometidos cortes nas emissões.
O estudo publicado esta quinta-feira na revista Science, intitulado “Acção necessária para que créditos de carbono para conservação de florestas funcionem para a mitigação das alterações climáticas”, analisou o impacto de projectos REDD+, ou seja, créditos de carbono dedicados a reduzir emissões resultantes da desflorestação e da degradação de florestas em países em desenvolvimento, inseridos num mecanismo criado pelas Nações Unidas. Em teoria, cada crédito de carbono equivale a um milhão de toneladas de emissões de dióxido de carbono que se evitou lançar para a atmosfera através da preservação florestal.
Os resultados, contudo, trazem novas provas sobre a (in)eficácia de milhões de créditos de carbono, baseados em cálculos grosseiros e inflacionados, o que põe em causa a adicionalidade de muitos destes créditos, ou seja, o impacto concreto que o projecto tem na redução de emissões no território abrangido.
A equipa internacional liderada pela Universidade de Cambridge e pela Universidade Livre de Amesterdão analisou 18 projectos REDD+ em seis países tropicais – Peru, Colômbia, República Democrática do Congo, Tanzânia, Zâmbia e Cambodja – certificados através do Verified Carbon Standard (VCS), um programa voluntário de redução de gases com efeito de estufa, e aprovados pela Verra, a maior entidade certificadora do mundo, como nota o jornal The Guardian. Outros oito projectos foram descartados do estudo porque não tinham sequer dados de comparação suficientes.
“Utilizámos locais de comparação do mundo real para mostrar como seria agora, muito provavelmente, cada projecto florestal REDD+, em vez de nos basearmos em extrapolações de dados históricos que ignoram uma vasta gama de factores, desde as alterações políticas às forças de mercado”, explica o autor principal do estudo, Thales West, investigador […]