Um ano depois das cheias em Campo Maior, no distrito de Portalegre, as marcas da enxurrada persistem nas paredes das casas e nas memórias dos moradores, algumas ainda sem ‘solução à vista’.
O Largo do Barata e a Rua da Lagoa, nesta vila alentejana, foram os mais afetados pela forte chuvada que caiu na madrugada do dia 13 de dezembro de 2022, com várias casas a ficarem inundadas, com água e lama, algumas quase até ao teto.
Passado um ano, constatou a agência Lusa numa visita agora efetuada, nas paredes de uma das casas que está em obras ainda são visíveis os sinais da altura a que a água chegou. E, no largo, mantém-se estacionado um carro então submerso, que continua com sinais de lama no interior.
“A água chegou aqui à parte debaixo destes focos”, recorda à Lusa José Varela, enquanto aponta para equipamentos de iluminação da empresa que tem juntamente com o pai, numa garagem onde guarda material, na Rua da Lagoa.
Com um prejuízo avaliado em cerca 36 mil euros, este empresário que aluga sistemas de luz e som relata que, com a ajuda do município, elaborou uma candidatura aos apoios da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo.
“Já passou quase um ano e estamos à espera de respostas. As coisas estão caminhadas, mas ainda não há o ‘ok’ para a transferência do dinheiro”, lamenta, lembrando que foi concedido às empresas lesadas um apoio de 70% a fundo perdido.
José Varela diz que alguns dos equipamentos que tinha na garagem foram ou estão a ser reparados, mas outros ficaram inutilizados. Já teve, pois, que recorrer a alugados ou de amigos para a empresa poder continuar a trabalhar.
“Fizemos o verão passado com o apoio de algumas empresas amigas, subalugámos material, outras pessoas também que nos emprestaram e conseguimos safar o ano de alguma maneira. Não podíamos parar e continuámos da maneira que pudemos”, salienta.
Agora, nesta garagem, só estão equipamentos que estão a ser reparados ou que já não têm recuperação, já que, por precaução, o material que funciona foi mudado para outro armazém do empresário na zona norte da vila.
Ao contrário desta empresa, Vanda Coelho e a família, que vivem no número 8 da Rua da Lagoa, já se recompuseram da desgraça que lhes aconteceu há um ano, quando a água da chuva e a lama entraram pela casa a dentro e destruíram tudo o que estava no rés-do-chão.
Conseguiram-no com o seu esforço e a ajuda da família, vizinhos, amigos, colegas de trabalho, que fizeram tudo para que não lhe faltasse nada, numa ‘empreitada’ feita “a pouco e pouco” e que só terminou no dia 02 de novembro passado.
“Agora, há pouco tempo, tivemos 2.750 euros de ajuda” da câmara municipal, salienta à Lusa Vanda Coelho, considerando que este valor, “nos dias que correm, não é nada” e, “para quem perdeu tudo”, não foi suficiente, ainda que o agradeça.
Esta família gastou 6.000 euros para refazer a vida e, nestas contas, não entram as ajudas que tiveram da família e amigos, nem a parte das obras na estrutura da casa, pagas pela seguradora.
“Não perdemos só a casa, perdemos também dois carros”, destaca Vanda, ao que Quirino, o marido, acrescenta que um dos veículos, o mais antigo, foi recuperado e outro, mais recente, com “tudo eletrónico, não liga, não faz nada e há um ano que está parado”.
Para os carros danificados, conta Quirino, foram avisados de que não haveria apoios, pelo que têm que pagar o empréstimo que fizeram para comprar a viatura, sem a poderem utilizar.
Nesta zona da vila, algumas das casas inundadas estão agora vazias. Quem lá vivia saiu e já não voltou. Vanda diz que os vizinhos, sobretudo os mais velhos, ficaram com medo e, agora, têm receio de que as cheias voltem a acontecer outra vez.
“Quando começa a chover, vamos à rua para ver como é que está a água, porque já temos medo de perder tudo outra vez”, relata.
Numa das ruas que dá acesso ao largo, a câmara já repôs a calçada que foi arrancada e reconstruiu um muro derrubado pela força da água da enxurrada de há um ano.