Comecei no pó e terminei debaixo de um chuveiro, mas as primeiras sementeiras de erva deste ano estão feitas. Uma série de peripécias atrasaram-me. Primeiro foi um pequeno pneu que rebentou fora da hora de funcionamento das oficinas. Depois foi um cardan da retrofresa com semeador que cedeu a logo a começar o segundo campo, ao início da manhã. Um novo cardan que chegou ao início da tarde era mais pequeno do que fora pedido e não iria resistir. Para não atrasar, e porque estava parado, fui a Braga buscar outro. Quando cheguei quase ao fim da tarde, começou a chover. Hoje, com mais um imprevisto e atrasado para o almoço, lá consegui terminar. Os meus “lameiros” estão semeados. Dois terrenos fantásticos que não precisam rega do milho mas obrigam a andar cedo na sementeira da erva. Durante um inverno normal, à moda antiga, o trator não poderá entrar nessas parcelas, sob o risco de ficar atolado. Consegui semear exatamente no mesmo dia do ano passado. A 19 de Setembro de 2019, tinha escrito isto na minha página pessoal :
“Ontem, enquanto Portugal punha toda a carne no debate do assador, fiz a primeira sementeira deste outono-inverno. Azevém e trevo. Pude semear cedo porque é um terreno fresco, próximo de um ribeiro, sujeito a inundações, agora mais frequentes porque na pequena bacia deste ribeiro está agora uma autoestrada e uma zona industrial. Semeando cedo, quando o inverno chegar, as raízes das plantas já nascidas seguram a terra e evitam a erosão. O leito de cheia permite à água espalhar-se e não provocar inundações na povoação mais abaixo. Não coloquei, nenhum agricultor coloca adubo químico na erva, nesta altura. As ervas do outono vão aproveitar o que restou da adubação do milho. Coloquei apenas adubo orgânico, o chorume, devolvendo á terra para alimentar as plantas a parte que as vacas não converteram em alimento para os humanos. Incorporei imediatamente na terra para não se perder o azoto. O azevém é um bom exemplo de planta resistente às alterações climáticas e situações extremas de clima, resiste a neve ou inundações. Se o outono permitir, se não houver chuva demais, farei um “corte de limpeza”, para alimentar as novilhas, permitindo controlar os saramagos sem herbicida. O trevo é mais sensível, mas como planta leguminosa, capta e fixa azoto da atmosfera, em simbiose com as bactérias rizobium, melhorando a terra e reduzindo a necessidade de futuras adubações azotadas. A erva é um alimento proteico, bom para alimentar as novilhas em crescimento ou equilibrar a ração das vacas baseada na silagem de milho, rico em energia, e reduzindo a necessidade de comprar ração. 80% do que as nossas vacas comem é cultivado por nós. Ao crescer, a erva vai captar dióxido de carbono e libertar oxigénio. O verde vai pintar a passagem. Entretanto, outros, enquanto gastam energia fóssil, dizem por aí que os agricultores são umas pessoas horríveis que maltratam vacas e poluem o ambiente. São as vacas expiatórias…”