Os incêndios que lavram desde domingo em Portugal continental, com incidência nas regiões centro e norte, onde já arderam mais de 75 mil hectares, causaram a morte de sete pessoas e deixaram 118 feridas, 10 das quais com gravidade.
Além dos sete mortos e 118 feridos, 10 em estado grave e 49 com ferimentos ligeiros, mais de 50 pessoas foram assistidas nos teatros de operações, sem necessidade de hospitalização.
Três bombeiros da corporação de Vila Nova de Oliveirinha, em Tábua, morreram na terça-feira quando se deslocavam para um incêndio naquele concelho do distrito de Coimbra. O município de Tábua decretou três dias de luto municipal e vai propor a atribuição da medalha de mérito e altruísmo aos três bombeiros.
A primeira morte registada foi um bombeiro vítima de doença súbita, no domingo, quando combatia as chamas em Oliveira de Azeméis, no distrito de Aveiro, tendo hoje centenas de pessoas, entre elas o Presidente da República e a ministra da Administração Interna, participado na missa que decorreu em São Mamede de Infesta, Matosinhos.
Na segunda-feira, as autoridades anunciaram mais duas mortes no distrito de Aveiro, a de uma pessoa encontrada carbonizada e um óbito por ataque cardíaco. Na mesma noite, uma idosa que tinha a casa numa zona de fogo em Almeidinha, Mangualde, morreu de doença súbita, segundo fonte do Comando Sub-Regional Viseu Dão Lafões.
Apesar da chegada, pelas 03:00, de 230 bombeiros espanhóis da Unidade Militar de Emergências para ajudar no combate aos incêndios, em algumas zonas do país a situação complicou-se hoje, com a alteração do vento e vários reacendimentos.
Aveiro continuou a ser um dos distritos mais fustigados, com as chamas a lavrar com intensidade nos concelhos de Oliveira de Azeméis, Sever do Vouga, Albergaria-a-Velha e Águeda, que se mantém como o mais complicado.
Os incêndios em Albergaria-a-Velha e Oliveira de Azeméis entraram, entretanto, em fase de resolução e, pelas 22:00, a Proteção Civil acreditava que os trabalhos em Sever do Vouga seriam também favoráveis à resolução do fogo.
Durante a madrugada, as chamas que lavravam em Castro Daire, no distrito de Viseu, alastraram-se aos concelhos vizinhos de São Pedro do Sul e de Arouca, no distrito de Aveiro, sendo que, neste último já destruiu cerca de dois quilómetros dos Passadiços do Paiva.
No distrito do Porto, depois de uma “noite terrível” no concelho de Gondomar, os focos de incêndios começaram a ceder aos meios e o fogo entrou em fase de resolução pelas 20:30.
Em Viseu, com especial incidência em Mangualde, Nelas e Castro Daire, e Vila Real, com focos maiores em Vila Pouca de Aguiar, os fogos continuaram também a gerar preocupação.
Em Braga, após cinco dias em que os incêndios não deram tréguas aos operacionais no terreno, todos os incêndios estão em fase de resolução, nomeadamente os que lavravam nos concelhos da Póvoa de Lanhoso e de Vieira do Minho.
Num balanço feito às 20:00, o comandante nacional da Proteção Civil, André Fernandes, destacou que as próximas 24 horas “vão continuar a ser muito complexas” no combate aos incêndios, que “têm ainda muita intensidade e energia”.
Os incêndios obrigaram hoje ao corte de várias autoestradas e estradas nacionais no Porto, Aveiro, Vila Real e Viseu.
De acordo com a última atualização feita pela GNR, pelas 20:40, no distrito do Porto, a estrada nacional 108 (EN108), que estava cortada entre a rotunda da A41 E Melres, no concelho de Gondomar, foi reaberta.
Também no distrito de Vila Real, foi reaberta a estrada nacional 2 (EN2), na zona de Vila Pouca de Aguiar, e a estrada nacional 108 (EN108), na zona do Planalto de Monforte.
No distrito de Viseu, a estrada nacional 231 (EN231), que estava cortada entre Vila Viçosa e Mourelos, em Cinfães, foi reaberta, permanecendo, no entanto, totalmente cortadas ao trânsito as estradas nacionais 228 (EN228), entre Figueira Alva – Fermentel, e entre Pindelo e Ponte Pedrinha, e 225 (EN225), entre Cabril e Pinheiros.
Em Aveiro, permanecem também totalmente cortadas as estradas nacionais 333 (EN333), entre Talhadas e Águeda, e 326-1 (EN326-1), entre Canelas e Alvarenga.
Pelas 16:10 já não havia autoestradas cortadas em Portugal continental.
A área ardida em Portugal continental desde domingo ultrapassa os 106 mil hectares, segundo o sistema europeu Copernicus, que mostra que nas regiões norte e centro, atingidas pelos incêndios desde o fim de semana, já arderam 75.645 hectares.
Estima-se que o perigo de incêndio rural comece a desagravar a partir de quinta-feira, dia em que são esperados aguaceiros, que, no entanto, só vão chegar na sexta-feira às regiões do Norte e Centro, as mais afetadas pelos incêndios.
Várias personalidades já manifestaram o seu pesar e solidariedade pelas vítimas dos incêndios, nomeadamente o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente do parlamento da Madeira, José Manuel Rodrigues, o patriarca de Lisboa, Rui Valério, e o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.
O Rei Felipe VI de Espanha transmitiu ao Presidente da República a solidariedade do povo espanhol perante a “tragédia provocada pelos incêndios” em Portugal e a disponibilidade para “reforçar apoios aéreos”.
O Governo declarou situação de calamidade em todos os municípios afetados pelos incêndios nos últimos dias.