Apesar do risco máximo de incêndio, o Governo não vai declarar situação de alerta. O geógrafo António Bento critica a falta de gestão das florestas e relembra a importância da limpeza do espaço florestal.
Esta terça-feira é mais um dia muito quente e o risco de incêndio elevado. Só este ano já arderam mais de 25 mil hectares. O geógrafo e investigador na Universidade do Minho, António Bento, explicou na antena da SIC as principais diferenças entre os vários incêndios que estão ativos neste momento.
António Bento fala em “situações muito diversas” quando compara os incêndios de Odemira e Castelo Branco e Leiria. O investigador da Universidade do Minho relembra a preocupação em não deixar que o incêndio de Odemira chegue à Serra de Monchique, porque as condições de orografia seriam “completamente diferentes”.
“Condições orográficas muito diferentes, implicam formas e metodologias de combate diferentes, porque obviamente os operacionais têm de se adaptar ao terreno onde estão e isso dificulta sempre estas operações.”, disse o geógrafo.
O investigador da Universidade do Minho, explica que Monchique é uma grande preocupação porque tem ardido “recorrentemente”, isto acontece porque “tem uma orografia complicada e uma vegetação particularmente com condições muito favoráveis para que possa arder.” acrescentado que o vento é também um fator “preponderante” na “condução do incêndio”.
Gestão dos espaços florestais
Para António Bento, existe uma “falta de gestão dos espaços florestais”, que é necessária para evitar incêndios de grandes dimensões. O investigador diz que não é possível acabar com os incêndios em Portugal, mas que é possível “reduzir drasticamente”.
“Há muito a fazer e inquestionavelmente é necessário haver mecanismos financeiros que em vez de penalizar sistematicamente as pessoas que estão no mundo rural, (…) os incentive e que lhes dê apoios para que eles possam promover uma gestão economicamente e ambientalmente viável. Enquanto não se inverter esta situação (…), não houver vontade política efetiva para rever esta situação, dificilmente deixaremos de assistir a verões, como temos assistido, com incêndios, com dramas”, sublinhou.
O geógrafo ressaltou que a legislação de 2017 relacionada com a limpeza dos terrenos em torno das habitações serviu para dar “alguma segurança às pessoas nas interfaces urbano-florestais e reduzir “alguns focos de incêndio que se iniciavam também nessas áreas”.
Em relação aos grandes incêndios, limpar 50 metros em torno das casas de “pouco ou nada adianta” porque continuam a existir “manchas contínuas de pinhal bravo, manchas contínuas de eucalipto”, vegetação que arde facilmente.
“Portanto tem de haver um tratamento de choque muito mais eficaz para o território como um todo e não em pequenas áreas pontuais, aqui e ali.”, acrescentou.