O presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), Tiago Oliveira, desafiou hoje o Parlamento e os partidos “a envolverem-se mais” na prevenção, porque “a sociedade não se pode lembrar dos incêndios só quando sente calor”.
“O problema [dos incêndios] resolve-se com mais prevenção, com mais gestão da floresta, com mais partilha do valor. Isso implica regulação e que o Parlamento se pronuncie sobre quais são os incentivos financeiros ou fiscais que penalizam quem não gere e beneficiam quem gere a floresta e também sobre o regime sucessório”, disse Tiago Oliveira.
O presidente da AGIF falava aos jornalistas à margem 8.ª edição da Conferência Internacional sobre Incêndios Florestais, que decorre até sexta-feira na Alfândega do Porto, quando antes, na sessão de abertura, defendeu que é necessário “prevenir no inverno e não aguardar pelo verão”.
“É o Parlamento quem tem de fazer mais e a sociedade em geral que não se pode lembrar dos incêndios só quando sente calor e clama por meios aéreos. Os meios aéreos dão uma ajuda se forem bem geridos e bem sincronizados com as forças no terreno”, considerou.
Um dos temas mais focados pelo responsável que preside a uma conferência que tem o alto patrocínio da Presidência da República e que hoje recebeu, na sessão de abertura, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, foi o do regime sucessório.
“É incompreensível como é que 30% do património português pertence a mais de um proprietário porque não fizeram as heranças. Se a pessoa não se sente dona, não vai investir”, disse.
Acrescentando que gostava que “o Parlamento se envolvesse mais e procurasse uma solução”, nomeadamente exigindo que as partilhas fossem obrigatórias no prazo de um ano, Tiago Oliveira defendeu que cabe a todos os partidos políticos resolver as questões que estão na origem do problema, referindo-se ao regime sucessório e à partilha do valor.
“Isto não é só pôr dinheiro a limpar o mato. Há muito mais a fazer. Há políticas públicas de Agricultura, políticas públicas de Energia, e toda a organização exige um Governo permanentemente atento”, referiu.
Tiago Oliveira considerou que “os portugueses têm feito um bom trabalho porque havia 20 mil incêndios há cinco anos e agora há em média 10 mil”, mas alertou que cada um “pode fazer mais no que diz respeito às ignições”.
“Desde logo, estar atento ao churrasco no verão, não atirar as beatas pela janela e as televisões não passarem imagens de chamas, por exemplo. Há imagens que ativam comportamentos incendiários fúteis de pessoas com distúrbios ou problemas de saúde mental. Há países em que as televisões não passam imagens de chamas”, concluiu.