A Finlândia apelou esta sexta-feira à União Europeia (UE) que considere a possibilidade de banir as importações de carne brasileira como resposta à devastação causada pelos fogos na floresta amazónica. O apelo foi feito no mesmo dia em que a Irlanda e a França ameaçaram bloquear o acordo entre a União Europeia e o Mercosul.
“A ministra das Finanças, Mika Lintila, condena a destruição da floresta tropical e sugere que a UE e a Finlândia deve rever urgentemente a possibilidade de banir importações de carne do Brasil”, disse a ministra das Finanças finlandesa num comunicado citado pela Reuters. A Finlândia assume neste momento a presidência rotativa da UE.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, acusa Bolsonaro de “mentir” e de não respeitar os compromissos ambientais que tinha assumido anteriormente durante um encontro do G20. “Dada a atitude do Brasil nas últimas semanas, o Presidente da República nota que o Presidente Bolsonaro mentiu na cimeira (G20) em Osaka”, no Japão, sublinha o Eliseu em comunicado. Por isso, acrescenta o documento, “a França opõe-se ao acordo do Mercosul”.
Já o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, garantiu, por sua vez, que se o Brasil não tomar medidas para proteger a floresta tropical, Dublin vai votar contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, alcançado em Junho após 20 anos de negociações.
Leo Varadkar mostrou-se, à semelhança de outros líderes políticos, preocupado com a destruição da Amazónia e assegurou que o Governo irlandês irá monitorizar de perto os esforços ambientais do Governo brasileiro até que o acordo com o Mercosul seja ratificado.
“A Irlanda não irá votar a favor do acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul se o Brasil não honrar os seus compromissos ambientais”, garantiu Varadkar. O primeiro-ministro irlandês classificou ainda de “orwelliana” a tentativa do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro de culpar as organizações ambientais pelos incêndios.
Porém, para bloquear o tratado de livre comércio entre a UE e os quatro países que compõem o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), a Irlanda iria precisar do apoio de outros estados-membros da União Europeia. Ao mesmo tempo, o próprio Governo irlandês é pressionado para proteger os seus produtores de carne bovina, que podem sair prejudicados com o Brexit e uma possível inundação do mercado com carne bovina mais barata vinda de países do Mercosul.
A Comissão Europeia manifestou-se esta sexta-feira “profundamente preocupada” com a situação na floresta amazónica.
“A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e contém um décimo das espécies mundiais. É por isso que saudamos as intenções do Presidente [francês] Macron em discutir esta questão na cimeira do G7, dada a necessidade de actuar rapidamente”, afirmou a porta-voz do executivo comunitário, Mina Andreeva, em conferência de imprensa.
A situação está “descontrolada”
O número de incêndios no Brasil aumentou 83% este ano, em comparação com o período homólogo de 2018, com 72.953 focos registados até dia 19, sendo a Amazónia a região mais afectada. Depois de semanas de silêncio, só quebrado para fazer acusações, Bolsonaro admitiu, nesta quinta-feira, que a situação está “descontrolada” e que o Brasil não tem meios adequados para combater os mais de 70 mil fogos em todo o país.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).
O Presidente francês, Emmanuel Macron, apelou para que os incêndios na Amazónia sejam discutidos na cimeira do G7, que se realiza no fim-de-semana, em Biarritz, sudoeste de França, por se tratar de uma “crise internacional”. Uma ideia apoiada pela chanceler alemã, Angela Merkel.
Participam na cimeira os líderes da Alemanha, Canadá, Estados Unidos da América, França, Itália, Japão e Reino Unido.
Também o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, se mostrou “profundamente preocupado” com os incêndios numa das “mais importantes fontes de oxigénio e biodiversidade”, referindo que a Amazónia “deve ser protegida”.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) brasileiro anunciou que a desflorestação da Amazónia aumentou 278% em Julho, em relação ao mesmo mês de 2018.