“É o acidente mais grave de que temos memória no parque empresarial. Como é que isto foi possível. Como é que os sistemas não foram redundantes e não foram acionados mais cedo os meios. Se o derrame aconteceu na sexta-feira e nós só fomos alertados no sábado alguma coisa falhou”, afirmou hoje à agência Lusa Filipe Rocha.
O autarca adiantou que o óleo derramado foi “bastante”, e que o facto de o ribeiro não ser de “grande dimensão” tornou o “problema ainda mais grave”.
“É de uma dimensão a que não estávamos habituados. Devem ter sido milhares de litros. A empresa não consegue ou não diz quantos litros foram, mas pela aspiração que decorreu durante todo o sábado e domingo, deve ter sido uma quantidade significativa. Estamos a falar de 1,5 quilómetros de extensão, entre o ponto do derrame e a foz deste ribeiro do rio Lima e é uma camada espessa de óleo”, apontou.
Contactada hoje pela Lusa, a Agência Portuguesa do Ambiente esclareceu tratar-se de “uma fuga na tubagem de fuel, ocorrida na sexta-feira”.
“Mal tomaram conhecimento, chamaram a empresa fornecedora do combustível que enviou um hidroaspirador para recolher o material derramado”, informou, por escrito, a APA.
Segundo a agência tutelada pelo Ministério do Ambiente, “esse equipamento iniciou o trabalho na sexta-feira à noite e continuou a trabalhar no fim de semana”.
“Hoje estão a reparar a fuga. A contaminação acabou por afetar uma linha de água próxima. No âmbito da Lei da Água, já comunicaram o incidente à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT) e APA”, refere a nota.
O presidente da Junta de Freguesia de Lanheses disse que, após ter sido alertado para a situação, acionou o dispositivo de proteção civil e avisou a Câmara Municipal, a Companhia de Bombeiros Sapadores, o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), força policial que viria a identificar a Recial-Reciclagem de Alumínios S.A. como a origem do derrame.
A Lusa contactou a empresa, mas sem sucesso até ao momento.
A GNR confirmou ter sido acionada para o local e hoje, em comunicado enviado redações com a informação da atividade operacional semanal, indica ter sido levando um auto contraordenação “no âmbito da legislação da proteção da natureza e do ambiente”.
À Lusa, o comandante da Companhia de Bombeiros Sapadores, António Cruz, disse que a corporação está no local desde sábado a “proceder a operações de remoção do óleo derramado no rego”, sendo difícil aferir da quantidade de combustível que “se terá infiltrado nos campos agrícolas” situados na zona.
António Cruz referiu estar também a ser efetuado “o tamponamento da linha de água, com mangas de absorção, para impedir a propagação do óleo”, tendo sido “alertada a capitania do porto de mar para estar vigilante na deteção de alguma mancha de óleo que chegue ao rio, no percurso entre Lanheses e Viana do Castelo”.
Segundo o autarca de Lanheses, “os trabalhos vão continuar durante várias semanas, e decorrer por fases”.
“Numa primeira fase desenvolveram-se os trabalhos mais urgentes, para conter a expansão do óleo no rego e aspirar o óleo que era possível tirar da água, colocando barreiras para impedir que óleo circulasse em direção ao rio Lima. Agora vão começar os trabalhos de limpeza das margens. São trabalhos para continuar durante algumas semanas e que estão a ser realizados por uma empresa de Cascais, acionada pela Recial”, disse.
Segundo o autarca, a brigada do SEPNA “identificou uma rutura de uma conduta da empresa, que faz a transferência do fuel óleo para os fornos e, dessa rutura, resultou o derrame que chegou às caixas de drenagem das águas pluviais que descarregam no tal ribeiro”.
“Aparentemente, e antes de haver mais perícias da APA, é o que sabemos. Queremos que a empresa assuma as suas responsabilidades, quer do ponto de vista da mitigação dos impactos deste acidente, quer na prevenção de situações semelhantes, com sistemas que sejam efetivos a detetar este tipo de problemas. Parece-nos que não houve o cuidado de avisar a tempo as entidades para que a atuação fosse célere”, frisou Filipe Rocha.
O autarca disse ter estado em contacto com o presidente da Câmara e com a vereadora do Ambiente durante todo o fim de Semana.
A Lusa contactou a Câmara de Viana do Castelo, mas ainda não obteve uma posição sobre o assunto.