O diretor-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA) disse à Lusa que vê com “muita preocupação” o aumento generalizado de custos, mas garante que as empresas do setor são resilientes e não antecipa cenário de falências.
A FIPA “vê naturalmente com muita preocupação” o aumento dos preços, afirmou Pedro Queiroz, salientando que a federação “tem estado a procurar permanentemente junto dos seus associados perceber o impacto desta conjuntura” e o que existe, “acima de tudo, é uma imprevisibilidade muito grande”.
Ou seja, “quase diariamente se renovam horizontes, portanto, ouço falar cada vez mais num horizonte mais longo de permanência de todos estes fatores”, sublinhou.
Esta situação “cria nas empresas, naturalmente, bastante instabilidade, a dificuldade a nível da própria gestão de custos, de conseguir ter aqui um cenário minimamente sustentável e, portanto, a FIPA só pode ver com preocupação, mas ao mesmo tempo também acreditando que as nossas empresas diariamente trabalham para encontrar soluções e continuar a garantir aquilo que é fundamental e que até o momento não está em risco, que é a alimentação dos portugueses com a mesma qualidade e com a mesma diversidade de sempre”, sublinhou o diretor-geral.
“Agora, todos estes aumentos começam a tornar-se absolutamente sufocantes para muitas empresas”, advertiu o responsável.
A subida dos preços da energia, das matérias-primas, só para citar dois exemplos, “impacta tudo, mas de uma forma não totalmente harmonizada ao longo do setores”, sublinhou.
“Obviamente que setores que estejam mais dependentes da importação de matérias-primas sofrem um impacto muito maior com estas disrupções da cadeia e com as dificuldades logísticas”, ou seja, “com o custo associado que os transportes têm, seja a nível de transporte marítimo, a nível de frete de contentores, seja a nível do próprio transporte rodoviário pelo aumento absolutamente astronómico que se tem visto a nível dos combustíveis”, prosseguiu Pedro Queiroz.
Depois, há empresas com “uma produção mais local, onde efetivamente o fator inflação acaba por ser também ele decisivo relativamente àquilo que pode ser a previsibilidade das organizações”.
Este “‘cocktail’ de aumentos acaba mais diretamente, mais indiretamente – porque hoje em dia as cadeias de valor estão globalmente integradas – por impactar as empresas e, portanto, não é apenas um fator de produção que se vê aumentar, são vários e de uma forma absolutamente alucinante, a uma velocidade impressionante e sem um fim à vista”, constatou o responsável.
Tudo isto “impacta em todos”, mas “as nossas empresas, de uma forma geral, mostraram ter uma capacidade enorme de resiliência, quer durante todo o período da pandemia”, que “não houve qualquer rutura a nível das diversas categorias de produtos alimentares”, quer neste momento.
“Apesar de muitas delas [empresas] se encontrarem bastante sufocadas ou bastante estranguladas (…) com esta conjuntura que referimos, não estamos a antecipar cenários, digamos assim, de problemas mais graves, nomeadamente ao nível de falências nas empresas”, afirmou.
Agora, “também dizemos que este cenário não é minimamente sustentável a médio prazo”, alertou o diretor-geral da FIPA.
Além disso, apontou Pedro Queiroz, a este aumento generalizado dos preços, acresce a tensão internacional entre a Rússia e a Ucrânia, que pode impactar ainda mais o setor se o cenário se agravar.