A The Fladgate Partnership declarou esta quinta-feira, 23 de abril, a colheita de 2018 como Vintage clássico para a marca Taylor’s. Esta é uma decisão inédita no setor do vinho do Porto, já que acontece pelo terceiro ano consecutivo – e pela quarta vez nesta década.
Em média e por tradição, esta declaração clássica só acontece três vezes em cada ciclo de dez anos. Já tinha acontecido em 2011 e esta sequência de anos excepcionais (2016, 2017 e 2018) é “muito incomum”. Porém, o CEO do grupo, Adrian Bridge, contrapõe que a qualidade é “ditada pelo ano e não por qualquer outra consideração”.
As 84 mil unidades do Taylor’s Vintage 2018 são ser engarrafadas em julho, como é habitual, mas não chegarão às prateleiras no outono. “Atendendo à situação económica” provocada pelo coronavírus, o grupo de Vila Nova de Gaia decidiu adiar o arranque das vendas para o primeiro trimestre de 2021.
“O comércio neste momento está ocupado e preocupado com outras coisas, nomeadamente com o ‘core business’ do seu negócio, o que percebemos perfeitamente. Não achamos oportuno avançar com a comercialização agora, mas apenas no início do próximo ano”, argumenta Adrian Bridge, em declarações ao Negócios.
Segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), as vendas de vinho na Europa deverão sofrer este ano uma quebra de 35% em volume e de 50% em valor devido à covid-19. A organização liderada por Pau Roca estima que a queda a pique das vendas no canal Horeca (hotéis, restaurantes e cafés) não será compensada com as vendas na grande distribuição.
Das três casas de vinho do Porto controladas pelo grupo – detém também a popular garrafeira OnWine, um conjunto de três hotéis na zona do Porto e no Pinhão e está a investir 100 milhões no World of Wine no centro histórico de Gaia –, só a Taylor’s conseguiu um Vintage clássico por ter uma extensa propriedade na sub-região do Douro Superior (Quinta de Vargellas), onde as condições nesse ano foram “excecionais”.
A Fonseca vai lançar o Vintage Guimaraens 2018, o primeiro desde 2015 nesta categoria de vinho com “a mesma constituição e carácter que os clássicos Fonseca Vintages, mas feito com um estilo mais acessível e de maturação mais precoce”. Já a Croft vai engarrafar um Vintage de Quinta, a partir da histórica Quinta da Roêda, no Pinhão.
“Desafios” no campo e na enologia
O director técnico e de enologia da Fladgate explica que em 2018 “o Douro Superior desfrutou da combinação de abundante água subterrânea e clima quente durante o Verão, o que muitas vezes produz magníficos Vintages”. “Isso deu-nos excelente maturidade fenólica, típica de um período de maturação quente, mas com maravilhosas camadas de fruta e uma acidez fresca que normalmente vemos em anos mais frescos”, classifica David Guimaraens.
E apesar de esta colheita de 2018 ter produzido vinhos de qualidade nesta que é a mais antiga região demarcada do mundo, o mesmo responsável recorda, citado numa nota à imprensa, que esse ano “[teve] os seus desafios”, dando o exemplo da severa tempestade de granizo que devastou muitas vinhas do vale do Pinhão, no dia 28 de maio, entre as quais a Quinta do Junco, da Taylor’s.