Os comandantes dos bombeiros dos concelhos de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, os mais afetados pelos incêndios de 17 de junho de 2017, alertaram hoje para a falta de voluntários e reivindicaram benefícios sociais.
Na mesa-redonda “Os Bombeiros, 7 anos depois, nos concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos”, iniciativa que assinalou aqueles incêndios e na qual participou o secretário de Estado da Proteção Civil, o comandante de Figueiró dos Vinhos insistiu num regulamento nacional de benefícios para os bombeiros voluntários.
O comandante Jorge Martins defendeu a revisão de alguns dos apoios existentes, como a isenção de propinas para os alunos do ensino superior, que, no atual modelo, pouco beneficia um estudante bombeiro voluntário que entre na corporação aos 17 ou 18 anos.
“Tens de criar de vez um regulamento de benefícios que seja algo palpável, que os bombeiros possam usufruir e que seja igual em todo o país”, sublinhou o comandante, que lamentou ainda o atraso no pagamento dos apoios aos elementos que têm filhos na creche.
Na iniciativa, promovida pela Liga dos Bombeiros Portugueses, Jorge Martins defendeu uma carreira para os bombeiros, de forma que seja possível competir com outras entidades na captação de novos elementos.
“Vemos o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) a abrir concursos para as suas fileiras de força de bombeiros, no qual o ordenado é superior a um elemento que esteja nas Equipas de Intervenção Permanente (EIP)”, lamentou, reclamando uma carreira digna, “não só para as EIP, mas também para todos os outros funcionários das corporações”.
Para o comandante de Figueiró dos Vinhos, a regulação dos benefícios sociais e a criação da carreira dos bombeiros “tem de ser o ponto número do Governo, porque sem bombeiros não se consegue que associações andem para a frente”.
Numa zona de interior, com progressivo processo de despovoamento, o comandante de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut, lamentou que a corporação esteja a perder “muitos jovens e bombeiros” devido à falta de oportunidades, apesar das muitas promessas após os incêndios de 2017.
“O despovoamento que aqui o interior tem leva os jovens a procurar [fora] a sua vida e depois constituem família e nunca mais regressam”, frisou, na mesa-redonda, lamentando que não haja outro financiamento para as associações de bombeiros.
As posições dos comandantes de Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande foram corroboradas pelo congénere de Castanheira de Pera.
Aos jornalistas, o secretário de Estado da Proteção Civil, Paulo Simões Ribeiro, apontou a necessidade de “olhar para essa valorização da carreira dos bombeiros e, com isso, torná-la mais atrativa e, acima de tudo, para terem uma maior certeza daquilo que podem ser nessa sua carreira profissional”.
“E depois olhar para aquilo que são os mecanismos que já existem de incentivo ao voluntariado”, adiantou, referindo: “O que nós temos de fazer agora é olhar para eles, estudá-los e, depois, a seu tempo, quando tivermos novidades para dar, daremos conta”.
Questionado se 70 dias de governação não são suficientes para olhar para esta matéria, Paulo Simões Ribeiro declarou que este assunto “tem de ser visto com todos os intervenientes no setor”, sendo que na quarta-feira haverá nova reunião de trabalho.
Sobre as comunicações do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP), o governante garantiu que “já está mais robustecido do que estava”, para acrescentar que “há sempre situações que devem ser atendidas e que vão ter de ser melhoradas”.
“É nisso que estamos a trabalhar”, afiançou.
A rede SIRESP é a rede de comunicações exclusiva do Estado para o comando, controlo e coordenação de comunicações em todas as situações de emergência e segurança, segundo o seu sítio na Internet.
O incêndio que deflagrou em 17 de junho de 2017 em Pedrógão Grande e alastrou a concelhos vizinhos provocou 66 mortos e mais de 250 feridos, sete dos quais graves, destruiu meio milhar de casas e 50 empresas.
Em outubro do mesmo ano, outros incêndios na região Centro fizeram 49 mortos e cerca de 70 feridos, registando-se ainda a destruição, total ou parcial, de cerca de 1.500 casas e mais de 500 empresas.