O presidente da empresa gestora do Alqueva defendeu hoje que o projeto é “a melhor apólice de seguro que o Alentejo podia ter”, sobretudo em períodos de seca, como o que atravessa atualmente.
“Alqueva é hoje a melhor apólice de seguro que o Alentejo podia ter, principalmente quando a água não cai do céu”, disse à agência Lusa o presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), José Pedro Salema, a propósito dos 20 anos do fecho das comportas da barragem, assinalados no dia 08 deste mês.
Segundo o responsável, a albufeira do Alqueva, situada no rio Guadiana, “é a única origem de água” na Península Ibérica destinada a regadio, produção de energia e abastecimento público “com capacidade para enfrentar grandes períodos de seca”.
Atualmente, a albufeira armazena 3.284,52 milhões de metros cúbicos (m3) de água e está à cota de 148,36 metros e com 79,15% da capacidade máxima, precisou.
Ou seja, a albufeira está com um volume de água utilizável de cerca de 2.284 milhões de m3, o que “seria suficiente” para satisfazer todas as necessidades do empreendimento do Alqueva durante “cerca de dois anos e meio” de seca.
Isto tendo como referência os volumes de água extraídos do sistema Alqueva-Pedrogão, libertados para assegurar o caudal ecológico do Guadiana e evaporados daquelas albufeiras em 2021.
E “assumindo” que não choveria e que “o Guadiana e todos os rios e ribeiras que correm para Alqueva e Pedrogão secariam “por completo, o que, obviamente, não é plausível”, frisou.
“Este exercício teórico simplista confirma as projeções” de que o Alqueva “consegue garantir todos os fornecimentos, mesmo em cenário de seca prolongada”, durante “três a quatro anos”.
O responsável lembrou que, em 1995, o então Presidente da República, Mário Soares, visitou o Alentejo para “ver de perto o efeito que a seca estava a ter” na região, e “até participou no enterro de gado, que sucumbiu à fome e à sede na margem esquerda do rio Guadiana”.
Naquele ano, contou, “foram inúmeras” as reportagens feitas em zonas do Alentejo “onde o abastecimento de água era feito com horas marcadas ou por autotanques”.
Após 1995, “outras secas assolaram a região, mas hoje, com Alqueva a chegar aos quatro cantos do Alentejo, as imagens de 1995 já fazem parte da história”, referiu.
“Não confundamos, contudo, Alqueva com o Alentejo”, vincou, precisando que a região “cobre um terço do território continental português” e “o Alqueva tem uma área de influência de 10 mil quilómetros quadrados” e “só parte” destes “recebe água para a agricultura”.
Mas, na área de influência, “Alqueva surge como o garante para a agricultura e o abastecimento público”.
José Pedro Salema disse que, 20 anos depois do fecho das comportas, tem “a certeza de que todos os mitos que se criaram à volta” do Alqueva “caíram” e o projeto “está a cumprir todas as missões para que foi construído”.
“Afinal”, frisou, “havia água para encher a barragem”, a albufeira “não é um pântano de água estagnada” e “não está a regar campos de golfe”. Existe agricultura e o projeto “está a desenvolver a região”.
Apesar de a agricultura assumir “um papel preponderante”, este é um projeto de fins múltiplos, que “também veio criar condições para o desenvolvimento de outras atividades económicas” e “trazer a segurança que a região precisava” no abastecimento público.
Segundo o responsável, Alqueva rega diretamente 130 mil hectares, “mas também é o garante para o reforço de outros perímetros” confinantes, os quais “dificilmente conseguiriam sustentar a atividade agrícola este ano, para não dizer que seria impossível”.
“Alqueva surge assim como um oásis no meio do deserto”, argumentou, frisando que o Alentejo “deve” ao projeto o aumento do seu Produto Interno Bruto “em centenas de milhões de euros por ano”.
Na sua capacidade total de armazenamento, de 4.150 milhões de metros cúbicos de água, à cota de 152, Alqueva é o maior lago artificial da Europa, com uma área de 250 quilómetros quadrados e cerca de 1.160 quilómetros de margens.