A produtora de vinhos Soalheiro, Melgaço, inicia a partir de junho a construção de uma unidade de alojamento local, com 10 quartos, num investimento superior a um milhão de euros, disse hoje o gestor e enólogo da empresa.
Em declarações à agência Lusa, António Luís Cerdeira adiantou que a nova unidade vai ser construída junto à adega da empresa, na freguesia de Alvaredo, com financiamento de fundos comunitários para a diversificação do setor do turismo.
A empresa Quinta do Soalheiro, que vai na terceira geração, é gerida pelos irmãos Maria João e António Luís, juntamente com a sua mãe, Maria Palmira Cerdeira. O negócio começou numa garagem, onde só cabia o carro da família. Em 1982, o carro foi “despejado” e o espaço recebeu as primeiras pipas de Alvarinho.
Atualmente, as instalações somam mais de mil metros quadrados, mas o negócio não ficou agarrado apenas à produção de uva da casta Alvarinho, presente em 40 países, e com faturação, anual, de 4,8 milhões de euros anuais.
A aposta no enoturismo começou com as visitas e provas de vinho. Às atuais duas salas de provas, vão juntar três daqueles espaços dedicados à degustação das 14 referências de vinho produzidos. Uma das novas salas, que irá chamar-se “Origens”, vai ser criada na garagem onde tudo começou e onde foi engarrafada a primeira garrafa de Alvarinho de Melgaço.
O investimento no enoturismo continuou em 2020, com a abertura da primeira casa de alojamento local, que hoje representa cerca de 10% da faturação anual.
“Correu muito bem e agora vamos crescer este segmento da atividade turística”, disse António Luís Cerdeira.
Com conclusão prevista para o final de 2023, a nova unidade vai criar, “no mínimo, três postos de trabalho”, que se vão juntar aos 40 atuais garantidos pela Quinta do Soalheiro.
O gestor adiantou que será “acessível à classe média” e proporcionará aos hóspedes diferentes propostas como passeios pedestres, desportos radicais, contacto com a natureza e degustação da gastronomia local”.
“Pretendemos valorizar os pontos turísticos do território, desde a zona mais a norte de Portugal, às pesqueiras do rio Minho, em fase de classificação a património imaterial. Um turismo de natureza, de descoberta, de conhecimento”, sustentou.
A “Casa das Infusões”, o primeiro “teste” na área do alojamento local representou um investimento de 50 mil euros na recuperação de uma casa, situada no interior da propriedade.
Com capacidade para receber seis pessoas, a unidade permitiu também à empresa dar os primeiros passos “no segmento das infusões como forma de diversificar a economia local”.
“A economia do concelho olha muito para a uva, mas gostaríamos que começasse a olhar para a biodiversidade”, especificou, referindo às plantações de lúcia-lima, cidreira, hortelã-verde tomilho, alecrim, tomilho-limão, hortelã pimenta chocolate, perpétua vermelha, erva príncipe, e perpétua roxa que rodeiam o alojamento local.
No domingo, a empresa vai celebrar 40 anos de uma história que começou em 1974. Numa paisagem marcada pelo minifúndio, a família investiu na produção de uva. Nos 10 mil metros quadrados de terreno, numa zona conhecida por Soalheiro, nome que acabou por dar nome à marca, abdicou de outras culturas e plantou vinha.
Atualmente, por ano, nos 14 hectares de produção de uva biológica, em parceria com o clube de viticultores que a empresa criou, e que integra 150 produtores locais, colhe-se um milhão de quilogramas de uva.
Da “uva mais cara do país” resultam em cerca de 700 mil garrafas de vinho (cerca de 60 mil litros), a esmagadora maioria de vinhos alvarinho, a casta rainha da sub-região de Monção e Melgaço.
Nos últimos três anos, a empresa Soalheiro investiu meio milhão de euros na investigação e desenvolvimento, e mais de três milhões de euros, na última década, na modernização de instalações e equipamentos.
António Luís Cerdeira adiantou que a empresa “apresenta vinhos novos todos os anos”, apontando como próximos lançamento os vinhos de “terracota de palha e a referência Lágrima, criação da equipa de enólogos”.
Já este ano, o gestor espera colher as primeiras uvas da plantação, em 2019, de uma vinha da casta Alvarinho na aldeia Branda da Aveleira, às portas do Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), a uma altitude média de 1.100 metros.
“É um desafio muito grande face às condições limite para a produção de uva, mas esperamos, este ano, fazer a primeira colheita”, rematou.