À semelhança de outras culturas tradicionais nos Açores, o amendoim teve durante muitos anos uma importância relativa para os produtores da Ilha de S. Miguel na medida em que várias famílias se dedicavam à sua produção e comercialização.
De nome científico Arachis hypogaea L. e pertencente à família Fabáceas (Fabaceae), o amendoim é também conhecido em algumas ilhas dos Açores por “pinotes”, crê-se que por influência americana (pea nuts).
Considerada uma cultura tradicional nos Açores, cultivada desde os nossos antepassados, sabe-se que, embora houvesse pequenas parcelas por toda a ilha, o concelho da Ribeira Grande e Vila Franca do Campo na Ilha de S. Miguel eram, e continuam a ser, as zonas de excelência para a produção de amendoim. Conta a história que no séc. XX, aquando da construção da fábrica de óleos vegetais e sabão, no concelho de Lagoa, o amendoim então produzido era entregue para extração de óleos vegetais.
Ao longo dos anos foram cada vez menos os produtores que continuaram a acreditar na cultura e se mantiveram até aos dias de hoje. A forma quase artesanal com que se continua a produzir, sem recurso à mecanização, as pequenas áreas de cultivo, a inexistência de soluções para controlo de pragas e doenças e acima de tudo a falta de mão de obra, foram fatores decisivos para que não houvesse uma expansão da cultura nos Açores nos últimos anos.
Apesar dos desafios de produzir nos Açores, quer pela dificuldade de ganhar escala e ser competitivo no mercado externo, quer pelos elevados custos de produção desta cultura na forma artesanal e tradicional como é feita, hoje novos produtores estão interessados em investir na produção de amendoim, como é o caso de Valter Rebelo.
O aumento do turismo, as alterações nos hábitos alimentares, a valorização do produto regional, o aumento da procura em relação à oferta são um estímulo para os agricultores mais atentos. Na realidade, para a produção existente, que é muito residual, todo o produto é vendido quando ainda está no terreno. Os preços médios rondam os 4.5 euros/Kg.
A expansão e um possível relançamento da cultura nos próximos anos passarão inevitavelmente pela mecanização, antecipação da produção, introdução de novas variedades e consequente redução de custos de produção.
Se por um lado, os Açores têm as condições óptimas para o desenvolvimento da maior parte das culturas, inclusive o amendoim, com temperaturas entre 13ºC e 25ºC, raramente inferiores a 10 ºC ou superior a 27ºC, e humidades relativas médias de 80% é também uma realidade que essas mesmas condições favorecem o crescimento de infestantes a ritmos por vezes alucinantes, mas também ao aparecimento de pragas e doenças.
É opinião geral entre os produtores de amendoim da Ilha de S. Miguel que as produções este ano foram inferiores aos anos anteriores. Consideram as chuvas do mês de Agosto as principais responsáveis pela quebra de produção. No entanto, destacam que o amendoim produzido tem excelente qualidade. Com base nas informações fornecidas pelos produtores e comparativamente aos anos anteriores, estima-se uma quebra de produção que ronda os 32%. As produções este ano variam entre 200 a 400 kilos por alqueire, ou seja 1400 a 2800 kg por hectare.
É importante referir que embora uma seca represente prejuízos na agricultura é preciso considerar que também a chuva fora de época pode traduzir-se em prejuízo, resultado disso foi a campanha de amendoim 2019.
Produzir amendoim nos Açores, atendendo à dimensão das parcelas e necessidade de mão de obra é por si só um desafio, se acrescentarmos as alterações climáticas a todas as restantes condicionantes torna-se praticamente impossível garantir a rentabilidade de determinadas culturas.
Segundo José Rodrigues, produtor de amendoim há mais de 45 anos, apesar de sempre ter existido produções em várias localidades da Ilha, é no Porto Formoso que o amendoim adquire características diferenciadoras em termos de sabor, produtividade e excelência do produto final. Refere ainda que é na “Ponta Formosa”, localização conhecida pelos seus terrenos ligeiros, bem drenados e com valores de pH entre 4.8 e 5.5 que consegue os melhores resultados. Esta localização prima por uma plena exposição solar atingindo temperaturas máximas de 25ºC e este ano em específico um máximo de 28ºC.
Um artigo da autoria de Terra Verde – Associação de Produtores Agrícolas dos Açores
Para ler na íntegra na Voz do Campo n.º 231 (novembro 2019)