Retirar carbono da atmosfera é essencial para o futuro do planeta e também pode dar rendimento. Saiba mais sobre a contribuição da sua floresta.
A floresta é o principal sumidouro terrestre de CO2. É, por isso, uma solução natural para uma economia de baixo carbono, que reduza os efeitos das alterações climáticas, e uma das razões por que a Comissão Europeia afirma ser necessário plantar pelo menos três mil milhões de árvores até 2030.
Ao representar quase 80% do volume de todos os gases com efeito de estufa na União Europeia, em 2021, o dióxido de carbono é o que mais contribui para o aquecimento global. A sua redução na atmosfera está muito dependente da diminuição da utilização de combustíveis e materiais de origem fóssil, e da substituição destes por matérias-primas com origem em fontes naturais, como a floresta. A madeira e o papel são um bom exemplo de produtos com origem renovável, que são biodegradáveis e um depósito privilegiado de CO2 ao longo da sua vida útil. Em média, em cada tonelada de papel fica retido o equivalente a 1,3 toneladas de dióxido de carbono.
1. Como é que a floresta retira dióxido de carbono da atmosfera?
As plantas retiram dióxido de carbono da atmosfera através da fotossíntese. O processo transforma o CO2 e a água em oxigénio e glicose, através de energia solar. Durante o dia, quanto têm luz, as plantas absorvem o CO2, guardam o carbono sob a forma de hidratos de carbono e devolvem o oxigénio à atmosfera. O carbono fixado é armazenado na biomassa, a estrutura vegetal constituída pelos troncos, ramos, folhas e raízes.
As florestas são consideradas “sumidouros de carbono” porque o CO2 que armazenam é o principal elemento químico da madeira, constituindo 50% desta. Além disso, uma fração importante do carbono da biomassa que se decompõe à superfície do solo (cascas, folhas e ramos caídos) fica também armazenado no solo. Os estudos permitem estimar que cerca de 30% do carbono existente no planeta [https://essd.copernicus.org/articles/10/405/2018/] está retido no solo.
2. Quanto carbono armazenam as florestas?
Um estudo publicado na revista científica Nature, em 2021, revelou que as florestas mundiais sequestraram, entre 2001 e 2019, o dobro do carbono que emitiram, mesmo contando com o carbono libertado em caso de incêndios. O estudo diz que o sequestro bruto anual de CO2 das florestas é de 16 mil milhões de toneladas, e estes números incluem também as florestas de produção, que são plantadas e replantadas de forma sustentável, criando um ciclo de retenção de carbono.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) afirma que, nos últimos 30 anos, o stock de carbono na biomassa total da floresta mundial diminuiu, sobretudo devido à degradação e perda de florestas para a agricultura e para povoações. Mas, na Europa, o armazenamento de CO2 nas florestas aumentou, graças ao crescimento de área florestal. Em Portugal, as estimativas da Agência Portuguesa do Ambiente revelam que as florestas passaram de ser um setor que emitia carbono, em 1990, para um sumidouro de carbono em 1992 e, desde então, sempre contribuíram para retirar da atmosfera parte dos gases com efeito de estufa que Portugal emite, com exceção nos anos de 2003, 2005 e 2017, quando a área ardida não permitiu que o carbono removido compensasse o que foi emitido nos incêndios rurais.
3. Todas as plantas retêm a mesma quantidade de carbono?
Não. A quantidade de CO2 sequestrado pelas árvores depende do seu tamanho, da taxa de crescimento e do ciclo de vida, entre outros fatores, como o tipo de solo e de clima, e a água disponível. No entanto, um dado é comum: quanto mais depressa crescem, mais dióxido de carbono consomem e acumulam.
Calcule a quantidade de CO2 fixado pela sua floresta, utilizando a nossa calculadora de sequestro de carbono, em https://produtoresflorestais.pt/calculadora-co2/
Na contabilização dos fluxos de carbono de três ecossistemas mediterrânicos – eucaliptal, pastagem e montado de sobro –, um estudo de referência realizado no sul de Portugal (2007, J. S. Pereira et al) concluiu que as florestas também promovem mais retenção de carbono no solo que outras ocupações. Além disso, no total de carbono, o eucaliptal – no caso, gerido pela The Navigator Company, na Herdade de Espirra – permitiu fixar 10 a 13 vezes mais carbono em anos secos e quatro a seis vezes mais em anos chuvosos, do que o montado e a pastagem.
4. Qual a capacidade de sequestro de carbono das principais espécies florestais nacionais?
As florestas plantadas de eucalipto destacam-se, em Portugal, pela capacidade de sequestro de carbono: esta espécie fixa, anualmente, entre 4 e 9 toneladas de carbono por hectare, o que representa sete vezes mais CO2 do que o sobreiro e três vezes mais do que o pinheiro-bravo. A constante renovação das espécies com ciclos mais curtos de corte permite a continuação desta função, com efeito mitigador das alterações climáticas a curto prazo.
Ao gerir em Portugal quase 106 mil hectares de floresta, a Navigator tem um stock de carbono, excluindo o do solo, equivalente a 6,1 milhões de toneladas, um valor semelhante às emissões geradas por 1,7 milhões de viaturas a circular em torno do perímetro da Terra.
5. Quanto vale o serviço que a floresta presta por sequestrar carbono?
Este serviço do ecossistema não é normalmente quantificado em termos monetários, mas a existência de um mercado regulado de licenças de emissão de carbono permite apurá-lo. Desde 2013 que o Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE) emite um número limitado de licenças de carbono pelos Estados-Membros, que são vendidas através de licitação em leilão. Neste mercado primário, os compradores são entidades e empresas às quais foram impostos limites máximos de emissões de GEE.
Utilizando o valor médio destas licenças em 2019 – 24,58 euros por tonelada de equivalente de CO2 –Américo Mendes, professor de Economia na Universidade Católica do Porto, calculou que o valor do carbono removido pela floresta portuguesa nesse ano foi de 257 milhões de euros. Mas, em fevereiro de 2023, os preços de arrematação de licenças europeias de carbono atingiram os 100 euros por tonelada, pelo que esse valor será, agora, quatro vezes superior.
6. O que é o Mercado Voluntário de Carbono?
Os projetos florestais – como os de florestação, reflorestação, melhorias de gestão ou recuperação de ecossistemas de floresta – não são considerados pela União Europeia como geradores de créditos de carbono para o Comércio Europeu de Licenças de Carbono. Estão, por isso, limitados ao mercado voluntário de carbono (MVC), que permite compensar as emissões de GEE de empresas que, não estando obrigadas por lei a cumprir limites de emissões, desejem ter no currículo esta vertente ambiental. Neste caso, por norma, as empresas adquirem “créditos de carbono” financiando, diretamente, projetos que sequestrem CO2, implementados por terceiros, como as associações de produtores florestais.
Apesar deste mercado voluntário ter menor dimensão do que o regulado e valores por tonelada muito inferiores, segundo o Banco Mundial, entre as várias áreas elegíveis, que vão das energias renováveis à agricultura, a floresta é a mais atraente. Em dezembro de 2021, o MVC atingiu os 1,98 mil milhões de dólares, a um preço médio de 4 dólares por tonelada, mas os créditos com origem florestal registaram uma média de 5,8 dólares por tonelada e um total de 1,28 mil milhões de dólares, ou seja, quase dois terços do mercado.
Em Portugal, o Governo anunciou este ano a criação de um Mercado Voluntário de Carbono, ainda em fase de proposta, que será regulado pela Agência Portuguesa do Ambiente. Na opinião de Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Ação Climática, este mercado não deverá ter preços regulados. “É uma oportunidade para acrescentar rendimento adicional, a curto prazo, à fileira florestal, num país onde 97% da propriedade é privada (…). Temos de trabalhar do lado da redução das emissões, mas também reforçar muito a capacidade de sumidouro de carbono do país, para chegar a 2045 com uma capacidade de captura de carbono de 13 milhões de toneladas”, afirmou o governante na apresentação da iniciativa.
O MVC nacional dará prioridade a projetos de sequestro florestal de carbono, em especial nas áreas florestais ardidas e nas áreas prioritárias previstas nos Programas de Ordenamento e Gestão da Paisagem. Irá prever créditos de carbono “normais” (por tonelada de CO2), que representem reduções/sequestro de emissões, transacionáveis e rastreáveis (registados numa plataforma especial para o efeito), válidos por tempo indeterminado, e gerados após validação/verificação por entidade independente qualificada. Incluirá ainda Créditos Carbono+, com co-benefícios adicionais ao nível da biodiversidade; Créditos Carbono Futuros, gerados antes da redução ou sequestro de emissões, e que podem exceder 10% dos créditos totais previstos para a duração do projeto; e os Créditos de Carbono Verificados, gerados após uma redução/sequestro de emissões efetiva.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.