A Organização Não Governamental guineense Tiniguena junta, hoje e quarta-feira, camponeses de 16 comunidades rurais para debater quais os mecanismos para permitir melhor acesso da mulher à terra agrícola, disse o secretário executivo desta ONG.
O sociólogo Miguel de Barros afirmou que, apesar de ser a maioria da população guineense e a “maior força produtiva” do país, “a mulher continua a enfrentar constrangimentos enormes” no acesso e posse da terra.
A Tiniguena é uma das mais destacadas ONG da Guiné-Bissau que atua na defesa e promoção dos recursos naturais, mas também atua em questões de empoderamento das mulheres das comunidades rurais.
Atualmente a Tiniguena tem em marcha, com o apoio da Agência de Cooperação Canadiana, um projeto que atua em 16 comunidades rurais das regiões de Oio, norte, Bafatá, leste, e Quinará, no sul, juntando mais de cinco mil mulheres.
Durante hoje e quarta-feira, no centro multiúsos da Tiniguena em Bissau, cerca de 60 pessoas, mulheres e homens, entre os quais chefes tradicionais e líderes religiosos das 16 comunidades, vão trocar experiências sobre como proceder para permitir que a mulher tenha direito ao uso privativo da terra onde trabalha.
Na Guiné-Bissau, e à luz dos costumes de quase todos os grupos étnicos, apesar de trabalhar na terra, a mulher não tem acesso à sua propriedade. Os campos de cultivo são considerados propriedade do homem, que os aluga à mulher.
A Lei da Terra, recentemente aprovada, alterou essa realidade, embora ainda não esteja a ser observada na maioria das comunidades do mundo rural.
“A confusão sobre o direito de acesso à terra não está nas mulheres, mas sim nos mitos criados para favorecer o bloqueio das mulheres a terem direito à terra onde produzem”, realçou o secretário executivo da Tiniguena.
Miguel de Barros frisou que esta situação “leva a que a mulher esteja sempre em desvantagem” do ponto de vista económico, “mesmo sendo o principal elemento na cadeia da produção agrícola”.
Além do debate sobre o acesso e posse da terra, a Tiniguena quer que as 16 comunidades rurais troquem experiências sobre de que forma gerem a água, como valorizam o solo, que modelos adotam na diversificação produtiva bem como na transformação de produtos e como os fazem chegar ao mercado.
A Tiniguena acredita que a troca de experiências, a plena integração das mulheres das 16 comunidades, o que passará pelo seu acesso e uso privativo das terras de cultivo, irão ajudar a fomentar a solidariedade nas mesmas, bem como incentivar a agroecologia.