A alimentação desempenha um papel fundamental na nossa vida. Uma alimentação saudável e equilibrada é essencial para garantir qualidade de vida, pois além de nos fornecer energia e bem-estar geral, uma boa alimentação permite prevenir e combater doenças, manter o peso e ter um bom desenvolvimento físico e mental.
Mas seremos nós capazes de valorizar o que comemos?
O EUROSTAT, serviço estatístico da EU, anunciou recentemente o registo de uma subida dos preços médios dos produtos agrícolas no seu conjunto durante o primeiro trimestre deste ano, comparativamente ao período homólogo do ano transato. Se no conjunto dos países a subida foi de 17%, no caso específico de Portugal foi de 33%, tendo como base o mesmo cabaz de produtos.
No que diz respeito a Portugal, é fundamental situarmo-nos no tempo e no espaço. A realidade da produção agrícola foi climatericamente muito dificultada – o norte do país foi fustigado continuamente com mau tempo neste período – com custos de produção elevados aquando das instalações das culturas devido ao elevadíssimo preço dos fatores de produção. Além disso, este período de tempo expôs a economia à dependência externa da importação de alimentos, com a necessidade de transporte e refrigeração, com os custos de combustíveis e energia a refletir-se nos preços de prateleira. Todo o setor primário sofreu estes efeitos e por essa razão as hortícolas, a fruta, o leite, o queijo, a carne, etc. sofrerem aumento de preço.
A PAC – Política Agrícolas Comum é a única política comum a todos os países e foi criada para garantir um mínimo de rendimento a quem trabalha a terra e produz alimentos, e desta forma suster a inflação dos produtos agrícolas, bens de primeira necessidade. Em Portugal, mais especificamente no norte do país, a distribuição deste apoio baseado nos hectares de área de produção, não funciona. O minifúndio, extremado no caso da produção hortícola, traduz-se numa ajuda tão pequena que quase não paga a candidatura ao subsídio.
Quando se vive unicamente do mercado, em que a oferta e a procura estabelecem os preços, os extremos da cadeia de valor ficam ainda mais vulneráveis. Se na escassez de oferta, como foi o caso do primeiro trimestre deste ano, o consumidor paga bem mais pelos produtos, quando a oferta é excedentária ao consumo, o produtor recebe valores que não cobrem os custos de produção, como acontece à data de hoje.
Há um enorme desfasamento entre os valores médios pagos ao produtor e o valor que o consumidor suporta na aquisição, havendo um aumento do custo de produção que os salários em Portugal não acompanharam. Essa perda de poder de compra dos portugueses, é também vivida por nós agricultores que sentimos na nossa vida particular (porque também nós somos consumidores), e sentimos da mesma forma na nossa atividade profissional.
A subida das taxas de juros, a ausência de medidas estruturais e ajudas atempadas, agravadas pelo custo da escassa mão-de-obra, inviabiliza continuar a produzir a preços que já se praticavam no século passado, mas com custos do dia de hoje.
Se por um lado está em causa a soberania alimentar, que num país desenvolvido é preponderante para a paz social, por outro lado está em causa a desertificação e abandono das áreas rurais, a coesão territorial e manutenção de paisagens. Estamos a falar da agricultura, com serviços públicos prestados por uma atividade que assegura a limpeza da floresta, das praias, das linhas de água e ainda produz alimentos.
Manuel António Silva
Horticultor