As cidades, como Lisboa, abastecem-se no mercado global e esquecem a sua periferia rural e tradicional, deixando-a abandonada e à mercê de dois flagelos: os incêndios, o flagelo natural, e o populismo, o flagelo político. Uma virtude, a liberdade do mercado global, torna-se assim num problema – o hipster do lifestyle, que é capaz de comer queijo Feta porque tem um nome exótico, mas não come queijo de cabra feito ali em Ourém ou na Beira
É incrível como a questão não está a ser debatida com imenso destaque; devia ser um dos centros da narrativa, mas surge apenas aqui e ali como um pormenor: as cinzas do grande incêndio da Serra da Estrela podem ser um enorme problema para a água que corre nas torneiras aqui na Grande Lisboa – 3 milhões de pessoas. A água canalizada que usamos aqui vem da barragem de Castelo de Bode, que aprisiona a água de um dos rios da serra, o Rio Zêzere. Se as cinzas caírem em massa no Zêzere, parece-me óbvio que temos em mãos um grave problema de saúde pública. É um tema central que merecia mais destaque, até porque ajudaria a criar a tal “consciência ambiental” de que se fala tantas vezes em abstrato. […]