A Polónia e a Ucrânia concluíram hoje um acordo sobre o reinício do trânsito de cereais ucranianos através de território do país vizinho, suspenso no sábado, indicou o Ministério da Agricultura polaco.
“Conseguimos pôr em prática os mecanismos que farão com que nem uma única tonelada de trigo vai ficar na Polónia, que as mercadorias vão transitar pela Polónia”, declarou Robert Telus após um encontro em Varsóvia com responsáveis ucranianos.
As duas partes indicaram que o trânsito de cereais ucranianos pela Polónia deverá ser retomado nos próximos dias.
“Abordamos os nossos problemas e dos nossos colegas polacos com a mesma atenção que a Polónia trata os nossos. Em consequência, devemos reagir rapidamente e de forma construtiva a esta situação de crise”, indicou aos ‘media’ a ministra do Desenvolvimento económico ucraniana, Iulia Svyrydenko.
Os transportes de cereais ucranianos através da Polónia são designadamente vigiados pelo sistema GPS, precisou o ministro polaco.
No sábado, a Polónia decidiu proibir as importações de cereais e outros produtos agrícolas provenientes da vizinha Ucrânia para proteger os seus próprios agricultores, sem consultar Kiev nem a Comissão Europeia e expondo-se às críticas das duas partes.
Os cereais ucranianos destinados a países estrangeiros transitam pela União Europeia (UE) após o itinerário tradicional de exportação via mar Negro ter sido bloqueado pela invasão russa.
Mas ao contrário dos projetos iniciais que apenas previam o seu trânsito, as reservas de cereais acumularam-se na Polónia, provocando uma queda dos preços locais, e que originou manifestações de agricultores e a demissão do ex-ministro da Agricultura polaco.
A Hungria e Eslováquia, ao alegarem proteger os seus agricultores, também anunciaram uma proibição temporária das importações de cereais e outros produtos agrícolas da Ucrânia.
A UE suspendeu em maio de 2022, por um ano, os direitos aduaneiros de todos os produtos importados da Ucrânia e organizou-se para permitir exportar as suas reservas de cereais após o encerramento das rotas pelo Mar Negro, na sequência da invasão daquele país pela Rússia.
No domingo, o ministro ucraniano da Política Agrária, Mykola Solsky, tinha referido que esperava “negociações difíceis” com vários países europeus, incluindo a Polónia, mas também Hungria, Eslováquia, Bulgária e Roménia.
A proibição das importações de cereais ucranianos “torna mais difícil” alcançar “uma vitória comum”, lamentou o ministro ucraniano.
Na segunda-feira, a União Europeia (UE) denunciou uma medida “inaceitável” e adiantou estar a “considerar” um segundo pacote de ajuda aos agricultores dos países afetados.
A Comissão revelou ter “solicitado informações adicionais às autoridades competentes para poder avaliar estas medidas”, nomeadamente a sua base legal.
“É importante frisar que a política comercial é de competência exclusiva da UE e que ações unilaterais não são admissíveis”, insistiu a porta-voz do executivo europeu, Miriam Garcia Ferrer.
“Nestes tempos difíceis, é crucial coordenar e alinhar todas as decisões dentro da UE”, acrescentou.