Perante a tragédia evitável de Pedrógão, a democracia está a fazer o mesmo que a ditadura fez perante a tragédia igualmente evitável das cheias de 1967: está a impor a ideia de que não há responsáveis humanos pela tragédia, pela incúria, pelo desmazelo, pelos erros estruturais e do momento; está a impor uma cultura de impunidade que se esconde atrás do clima. Não foi o “aquecimento global” que conduziu as pessoas para uma estrada que devia estar fechada e limpa
Costa, o PS e a geringonça tentaram logo a narrativa da desculpabilização em 2017: não havia culpados humanos pela tragédia de Pedrógão, a culpa era do aquecimento global, que tem costas largas em Portugal. Na Grécia, em Itália, em França, em Espanha, também há aquecimento global, mas não há nem de perto nem de longe uma área ardida (em percentagem) equivalente à área ardida em Portugal. Portugal está aqui num campeonato à parte. Essa narrativa de desresponsabilização foi tão forte que levou Costa a fazer declarações que chocaram o país pela frieza em relação às mortes. Aliás, a forma fria e distante com que Costa e o governo encararam Pedrogão provocou o único grande momento de contrapoder de Marcelo – o único. […]