Brunch com o enólogo e dono da Herdade do Rocim.
Comecemos por um disclaimer: isto não é um Brunch . É a Bucha da Manhã. É assim que se chama a este verdadeiro manjar dos deuses que me coube a sorte de estrear e que será mais um fator de atração de turistas à magnífica Herdade do Rocim. Em pleno Alentejo, entre a Vidigueira e Cuba, onde a planície se liga com as elevações no horizonte, estendem-se as vinhas biológicas a perder de vinha, onde se recuperou tradições antigas pela mão de um dos melhores que temos nesta arte. O vinho de talha é a marca de Pedro Ribeiro, uma de muitas que este portuense feito alentejano – ele diz que se sente português, europeu, mas não de uma certa região – colheu nas tradições da terra e que temperou com os conhecimentos técnicos adquiridos a trabalhar com os melhores, a investigar, a experimentar.
À mesa do restaurante que já recebe todos os anos centenas de turistas chegados dos Estados Unidos, de França, do Brasil, paredes meias com o local onde há de nascer em breve uma exclusiva unidade de enoturismo de apenas nove quartos, de que Bruno, o nosso anfitrião de comes e bebes, vai cuidar, estendem-se as delícias da terra.
Há tomate de Vila de Frades, agriões frescos, queijo fresco de cabra, azeite do Rocim, empadas da padaria local, melão fresco e cogumelos salteados com orégãos, pupias (doce típico da região) e pão alentejano ainda quente. Pisca-nos o olho à gula uma seleção de enchidos de porco preto e queijos – maturado, amanteigado, média cura, cabra -, as compotas de tomate e de abóbora, o mel da Vidigueira, as laranjas da herdade. Uma barrigada de sabores feitos para nos conquistar e que cumprem a sua missão com dez estrelas, emparelhadas com os vinhos que Pedro Ribeiro produz não apenas ali, mas por todo o país.
Arrancamos com um Espumante Grande Reserva, um brût nature que estagiou 48 meses, a brilhar em pérola através do vidro com rótulo propositadamente torto, a dar de primeira a perspetiva artesanal do produto. “Fazemos uma produção muito pequena, 700 garrafas, tudo feito à mão e quisemos dar essa imagem logo desde o primeiro impacto”, explica o enólogo, legendando o método que trouxe às suas produções e de que fez imagem de marca: vinhos frescos, naturais, biológicos, artesanais, de alta qualidade e reconhecidos já pelo mundo inteiro.
Se Pedro admite que fazer a marca é o mais importante neste negócio, o que verdadeiramente faz a diferença, o currículo que traz agarrado à pele é uma ajuda preciosa. Mas o que mais fortemente o distinguiu nesta odisseia talvez tenha sido mesmo o projeto em que acintosamente quebrou com a tradicional vergonha, com a pequenez e a falta de ousadia que tantas vezes tolhem os movimentos aos portugueses. Sem vergonhas, Pedro Ribeiro foi o autor do vinho mais caro alguma vez feito em Portugal, um projeto desenvolvido ao lado do wine advisor Cláudio Martins. A mil euros a garrafa – “o que muita gente considerou que era um disparate, mas foi algo verdadeiramente excecional, que nos catapultou enquanto produtores e enquanto país, fazendo realmente a diferença na notoriedade que temos de afirmar”, diz-me – do vinho de talha a que se chamou Júpiter fizeram-se 800 exemplares. Os 30 que ficaram foi por opção, para serem vendidos mais tarde numa seleção ainda mais exclusiva.
Do Porto ao Alentejo
Pedro Ribeiro nasceu e cresceu no Porto, rodeado pelos negócios, o das rolhas, que a família vendeu à Amorim, e os outros, a que ainda se dedica e em cuja gestão vai dando uma mãozinha, dos tratores às máquinas para obras públicas, passando pelo Jornal de Leiria. E depois de uma adolescência em que garante ter feito tudo, até demais – “estou agora a recuperar dos excessos todos que cometi. Não me envergonho, assumo tudo o que fiz, mas podia ter […]