O Outono é tempo de apanha de cogumelos. Mas há que ter atenção aos que se podem comer várias vezes e aos que se comem apenas uma vez na vida, pois alguns são venenosos. É o caso do Frade (Macrolepiota procera), que é comestível e do falso frade, que é venenoso.
E não são raros os relatos de algumas situações pouco agradáveis relacionadas com o consumo de cogumelos, pressupostamente da espécie Macrolepiota procera, mais vulgarmente conhecido na Região Centro por Frade ou Gasalho.
Indisposição, vómitos e diarreia são sintomas comuns. Em casos mais graves as pessoas deixam de urinar, ficam inchados e até os rins podem parar de funcionar tendo de se recorrer à hemodiálise. E há casos em que não há remédio: o consumidor de falsos Frades pode mesmo morrer.
Falta de informação
Todas estas situações se devem à falta de informação e o desconhecimento das pessoas, sobre a existência de uma espécie, não comestível, muito semelhante ao Frade (Macrolepiota procera).
“Não havendo consciência disso, os colectores mais experimentadas e observadores quando verificam nos cogumelos aspectos que não se enquadrem integralmente nas características do frade que tradicionalmente apanham, por precaução, rejeitam liminarmente estes”, explica a Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAP Centro).
E acrescenta que p nome de Frade associado ao Macrolepiota procera é extensivo a outras espécies do género Macrolepiota. Regista-se o mesmo nome para diferentes cogumelos com todas as questões que daí podem advir se alguns não forem comestíveis como é o caso do Macrolepiota venenata.
Em concreto foi possível também verificar a mesma denominação para o Macrolepiota phaeodisca, nalguns locais apelidado de Frade cabreiro. Esta espécie, descrita recentemente (há menos de 30 anos), é muito mais pequena (a rondar alturas próximas dos 10 cm) e o chapéu apresenta algumas particularidades: tamanho superior ao do pé e um disco central plano de cor muito escura (castanho escuro, quase negro).
Na Região Centro aparece normalmente a Sul da Serra da Gardunha, em pastagens abertas com sobreiros e azinheiras e apesar de, nos manuais em que é referida, constar como não comestível ou de suposta/desconhecida toxicidade, ela é tranquilamente consumida por ali nalgumas localidades.
Prova da prata
Acrescenta a DRAP Centro que a manutenção do uso em meio rural do alho e de objectos em prata como método de confirmação da comestibilidade dos cogumelos é “uma tradição errónea e sem qualquer fundamento, que urge desmistificar junto da população micófila, pelas graves implicações que envolve a manutenção de tal procedimento”.
Por outro lado, diz que o uso de sacos de plástico na apanha de cogumelos e, mais grave, da sua manutenção vários dias em sacos, antes da preparação e efectivo consumo, é “uma prática a erradicar nos colectores, completamente desadequada para a apanha e conservação dos cogumelos, que conduz a uma degradação rápida, com implicações muito negativas na qualidade e na sanidade do produto a consumir”.
Cuidados a ter com a apanha, conservação e consumo do frade
Os técnicos da DRAP Centro descrevem também os cuidados e práticas a ter em conta na apanha e consumo do Macrolepiota procera, algumas das quais para precaver a confusão com o Macrolepiota venenata.
E dizem que a extracção deve ser total e efectuada com o cuidado em não remover a camada superficial do solo e não danificar o micélio; aspectos que podem afectar negativamente a produção vindoura. O corte do cogumelo a meio do pé conduz à eliminação da base do pé e eventualmente do anel, elementos que apresentam características próprias importantes e diferenciadoras a que se faz recurso para uma precisa identificação das espécies.
Compreende-se o corte do pé quando há uma inequívoca identificação da espécie: como medida higiénica para não conspurcar os restantes cogumelos acondicionados com os restos da terra que vêm agarrados à base do pé; nas situações em que se verifique a existência conjunta de exemplares adultos e na fase primórdio ou muito jovens, em que o arranque abaixo da base do pé pode vir a comprometer desenvolvimento futuro dos juvenis.
Pode ler o documento explicativo da DRAP Centro completo aqui.
O artigo foi publicado originalmente em Agricultura e Mar.