Comida mais cara nos supermercados, pastos que não crescem, gado sem alimento, alergénios mais tempo em suspensão e mais problemas de saúde: a falta de chuva está mesmo a afetar o país neste inverno
Há 17 anos que não havia tantas zonas do país em seca grave nesta altura do ano. E, não se prevendo chuva a curto prazo, o país pode estar a caminhar para um ano muito difícil ao nível da disponibilidade de água, admite José Paulo Martins, ambientalista da Associação Zero. “Há locais onde caíram menos de 100 milímetros de chuva desde o início do ano hidrológico, a 1 de outubro.”
Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), para diminuir ou acabar com a seca seria necessário que no norte e centro do país chovesse mais do que 200 a 250 milímetros e no sul mais de 150 milímetros, mas a possibilidade de que isso se verifique ocorre apenas em 20% dos anos.
“Vamos esperar que chova”, diz José Paulo Martins ao telefone de Beja, onde o impacto da falta de água já é visível, bem como noutras partes do país. “Ainda temos água nas barragens, mas vamos passar para uma fase pior quando as barragens já não tiverem água sequer para fornecer a quem necessita”, atalha, acrescentando que a situação em Espanha também não é famosa. “Nós ainda estamos com 75% de capacidade na bacia do Guadiana, mas a grande barragem do Guadiana de Espanha, La Serena, que é uma espécie de Alqueva deles, está com 35%”, refere o ambientalista. E atalha: “Se não chover em fevereiro, mais um mês sem chover, vai ser dramático”.
Por agora, os reflexos da falta de chuva fazem-se sentir nos pastos, “que deviam estar a crescer mas não estão”, e nas culturas de inverno, nos cereais, explica José Paulo Martins. Depois alastrará para as frutícolas fora das zonas regadas e as zonas regadas terão de ser provavelmente condicionadas à água disponível. “Pode ser um ano mau e nalgumas espécies já se está a notar.”
Comida mais cara nos supermercados
Os impactos da seca sentem-se em muitas frentes: ao nível do solo, sem humidade, comprometendo as colheitas de inverno; nas plantas para alimentação do gado; e, naturalmente, no bolso dos agricultores, que são obrigados a regar. Na pecuária exige-se investimento naquilo que, nesta altura do ano, é disponibilizado gratuitamente pela natureza: os pastos que deviam estar a crescer mas não estão. “Já estamos a ver na flora espontânea plantas que não estão a florir, o que se reflete nos insetos e em toda a cadeia alimentar. Temos de ter esta noção global de que todos os ecossistemas são afetados”, sublinha o ambientalista José Paulo Martins. […]