Não se trata “apenas” de dependências, mas interdependências. Faces concretas, reconhecíveis por todos, da globalização e da liberalização da economia mundial. E também de “prioridades”, escolhas e equilíbrios.
A invasão da Ucrânia pela Rússia tem-nos revelado o mundo. Vemos, sentimos e compreendemos conceitos abstractos. Que tantas vezes tomamos como obstáculo entre nós e aqueles que decidem e que, por isso, nos fazem percepcionar as “suas” decisões como longínquas.
As dependência — “nossas” dos “outros” —, nos aumentos dos preços da energia ou dos cereais e produtos deles derivados. Nas soluções possíveis como compras conjuntas através da União Europeia (UE), que testámos na aquisição das vacinas contra a covid-19.
As dependências – dos “outros” em relação a “nós” — confirmamo-las pela decisão de adopção de contramedidas económicas robustas, dirigidas ao núcleo duro do regime russo. Para que revertam os seus comportamentos intoleráveis (porque “hão-de doer”). Firmeza e união (veremos se duradouras) mesmo com a certeza de que, em ricochete, também a “nós” nos “doerá”.
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Outras dependências, outros riscos. Para lá da relação União Europeia/NATO-Ucrânia-Rússia.
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A crise no mercado dos cereais agravará a fome, lá onde já existe de forma estrutural e continuada (penso nalguns países no continente africano, como, por exemplo, a Somália). Diz-nos respeito. Por si só, não é suficiente? Sabemos que a segurança alimentar fica ameaçada (um dos temas discutidos pelos ministros da Agricultura da UE no dia 21 de Março). Sabemos que a instabilidade social e a pobreza em contextos sociais e políticos frágeis desencadeiam fluxos migratórios intensos (em nome da sobrevivência). Sabemos como é também aí que grupos armados e terroristas exploram a fragilidade e a necessidade de tantos para alimentar a radicalização das sociedades. Sabemos […]