O exercício internacional de combate a incêndios florestais terminou hoje “com sucesso” em Abrantes, com o comandante regional de Emergência e Proteção Civil a destacar a importância da interoperabilidade e do Mecanismo Europeu em cenários extremos.
“Os operacionais e os módulos nacionais e internacionais saem daqui todos muito contentes, os cenários criados superaram as expectativas e foi a primeira vez que foi possível, num exercício de incêndios florestais, conseguir as condições para que eles trabalhassem com fogo real”, disse hoje à Lusa Elísio Oliveira em Abrantes, no distrito de Santarém, onde decorreu durante dois dias, sem interrupções, o exercício EU MODEX PT2023, no âmbito do Mecanismo Europeu de Proteção Civil da União Europeia.
Os cerca de 750 operacionais de Portugal, Espanha, Alemanha, Itália e França estão a participar desde quarta-feira e até hoje, sexta-feira, num exercício que visa treinar a resposta nacional e europeia a um incêndio rural de grandes dimensões, num cenário complexo, com múltiplas ocorrências, e que estava a afetar vastas áreas florestais com um grande número de aglomerados populacionais no seu interior.
Segundo o comandante regional de Emergência e Proteção Civil do Comando Regional de Lisboa e Vale do Tejo da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), num balanço efetuado ao início da tarde, no final do exercício, “durante estes dias foram criados cerca de 20 cenários diferentes”, alguns dos quais em simultâneo, “com perto de 200 injeções” de ocorrências passíveis de ocorrer num cenário de extrema complexidade.
Aterragem de emergência de um helicóptero, aplicação do programa ‘Aldeias Seguras, Pessoas Seguras’, evacuação de aldeias, acidentes com pessoas a fugirem do fogo, criação de linhas de proteção, e combate direto e aéreo às chamas foram alguns dos cenários testados e recriados.
“Tentámos recriar um conjunto de incidentes que, na realidade, podem acontecer nos incêndios, com condições extremamente difíceis e onde, em alguns locais, não era possível trabalhar com veículos, tendo sido necessário ir a pé e montar linhas de mangueira com mais de dois quilómetros”, ilustrou.
A secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, esteve na quinta-feira no terreno, tendo destacado a importância da preparação para situações extremas de incêndios florestais, expectáveis no verão, face às previsões, quer nacionais quer europeias, que indicam “uma alta possibilidade de ter um verão difícil, complexo, com temperaturas acima do normal”.
“Aqui estamos a levar o cenário a uma situação extrema, uma situação em que as capacidades nacionais, por algum motivo, são esgotadas, e o país solicita apoio europeu”, contextualizou a governante, tendo destacado a importância da “preparação” e “interoperabilidade” para enfrentar “uma situação real que possa acontecer”, semelhante ao exercício que decorreu até hoje em solo nacional.
Elísio Oliveira, por sua vez, destacou hoje a importância da ajuda e apoio internacional em cenários de grande complexidade, tendo feito notar que, “ainda recentemente, Portugal deu resposta em duas situações, no Chile, na ajuda ao combate a incêndios florestais, e na Turquia, com ajuda no âmbito do sismo que ali ocorreu, tendo sido “injetados cerca de 200 operacionais” para estas duas missões.
“Nós também somos dadores de ajuda e temos de perceber que hoje, face ao que acontece no mundo e às alterações climáticas, nenhum país pode dizer que consegue sozinho resolver situações extremas ou de exceção”, afirmou, tendo feito notar que o trabalho desenvolvido no âmbito do Mecanismo Europeu da Proteção Civil resulta numa “articulação que faz a diferença e pode salvar vidas”.