A atuação dos bombeiros no incêndio de Castro Marim, que deflagrou no dia 16 de agosto, é questionada por algumas populações, mas a Proteção Civil garante que o plano elaborado permitiu controlá-lo mesmo com condições meteorológicas adversas.
Habitantes de Cortelha, Pisa de Barro de Cima ou Pego dos Negros no concelho de Casto Marim, no Algarve, queixam-se à Lusa de não terem sido apoiados pelos bombeiros, quer por não darem resposta aos apelos diretos ou por terem aparecido muito tarde.
Manuel Pereira, acusa os bombeiros de “pouco ou nada terem feito” em Cortelha e afirma que estavam 12 carros de bombeiros num largo a “pouco mais de 100 metros” e “deixaram arder esta casa”, afirmou à Lusa no dia em que o incêndio foi dado como extinto, enquanto apontava para a habitação.
“Fizeram zero e eu estava aqui nessa altura. Estavam deitados dentro dos carros. Estava tudo ardendo, tomado pelas chamas”, avançou, referindo que lhe responderam que “não tinham ordem para ir apagar”.
Em Pisa Barro de Cima e Pego do Negros a acusação é de não terem aparecido ou só o terem feito “horas depois de o fogo ter passado”, como revelou à Lusa um habitante.
“Chamámos os bombeiros e ninguém aparecia, o fogo chegou às oito da noite e o primeiro carro [de bombeiros] à uma da manhã. Estavam parados lá em baixo e nada fizeram. A malta pedia ajuda e eles diziam que não tinham ordem para apagar o fogo”, afirma Ricardo Neves.
Contactado pela Lusa, o Comandante Regional do Algarve da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil diz não comentar casos concretos que desconhece, mas assume as críticas e solicita que lhe as façam chegar para que se possam “analisar e saber porque não estiveram lá pessoas”.
Vítor Vaz Pinto classifica como “excecional” o combate ao incêndio, já que foi controlado sem uma janela de oportunidade “do ponto de vista meteorológico” e o esforço foi “todo direcionado para a salvaguarda das “pessoas, dos seus bens e do ambiente”.
“Lamento a perca que as pessoas tiveram, o trabalho de uma vida, às vezes de gerações, que perdem de um momento para o outro, mas têm de perceber que não é possível ter um bombeiro ao lado de cada árvore, um militar da GNR ao lado de cada casa e um helicóptero em cada freguesia”, assume.
O responsável quis esclarecer também que, “ao contrário do que foi dito”, quando o incêndio foi dado como dominado, a meio da manhã do dia 16, não foram retirados meios, mas sim “projetados meios diferenciados”.
“Antes de haver a reativação foi quando saíram os meios aéreos pesados”, realça.
Explicando que um incêndio é dado como dominado quando é “travada a sua progressão”, adianta que isso não significa que não possa haver reativações, como neste caso, onde houve “seis reativações”.
“Cinco foram prontamente debeladas pelos meios que estavam no local e a sexta não foi possível debelar porque, quando se dá, fica fora da capacidade de combate e coincidiu numa altura em que não havia meios aéreos no teatro de operações para travar a sua progressão”, sustenta.
O comandante esclarece também que a estratégia de combate a este incêndio passava por “travar a progressão da cabeça do incêndio” logo que se encontrava uma janela física no terreno que desse “segurança aos meios e recursos para poderem atuar”.
Ao mesmo tempo, procurava-se “sustentar os dois flancos com 15 quilómetros cada porque, caso contrário, o incêndio atingiria os 29 mil hectares”, alerta.
Cabe depois a cada nível – estratégico, tático e de manobra – implementar esse plano no terreno cumprindo a missão que lhe é confiada “da forma que achar mais adequada”.
“As pessoas, às vezes, pensam que o Comandante de Operações de Socorro é quem dá as ordens diretas ao bombeiro para abrir ou fechar a mangueira, não é isso que se passa”, conclui.
O incêndio deflagrou à 01:05 do dia 16 de agosto, foi dado como dominado às 10:20, mas acabou por reativar cerca das 16:00 e só foi novamente dominado um dia depois, na tarde do dia 17.
Segundo o Serviço de Gestão de Emergências do Copernicus da União Europeia (UE), o fogo provocou um total de 5.957 hectares de área ardida (2.774 hectares de áreas agrícolas) nos concelhos de Castro Marim, Vila Real de Santo António e Tavira, no Algarve, estando as autarquias a fazer o levantamento integral dos prejuízos.