Nota: Este artigo é parcialmente traduzido do blog A Plant Out Of Place, escrito pelo Professor Andrew Kniss, da Universidade do Wyoming. O artigo foi traduzido e adaptado com a sua autorização.
Como falamos no artigo anterior sobre glifosato, um júri em São Francisco, Califórnia, decidiu que a Monsanto terá que pagar 289 milhões de dólares a DeWayne Johnson, um homem diagnosticado com linfoma não-Hodgkin, por ter sido (supostamente) provado em tribunal que o Roundup, produto à base de glifosato, foi o que causou o seu linfoma.
Sobre o caso em concreto
Primeiro, DeWayne Johnson iniciou a sua exposição ao glifosato em 2012, tendo sido o seu linfoma diagnosticado em 2014. Ou seja, uma exposição de cerca de dois anos antes do desenvolvimento do linfoma. Isto levanta imediatamente um problema. Qualquer cientista na área e que conheça minimamente como se desenvolvem as neoplasias diria que a possibilidade de existir uma relação entre o cancro de DeWayne Johnson e a exposição por dois anos é praticamente nula. Pessoalmente não conheço nenhum tipo de exposição que seja tão rápida a provocar cancro…os asbestos demoram pelo menos 15 anos a provocar mesotelioma. O período de latência para a radiação provocar cancro é 5-7 anos para leucemia e pelo menos 10 anos para tumores sólidos (artigo e artigo). Um estudo avaliou o tempo de latência para vários tumores, concluindo que 35 dos 44 tipos de tumores analisados tinham um tempo de latência superior a 10 anos ou mais, representando 89% dos doentes da análise.
Além disso, se o glifosato provocasse cancro num tempo de exposição tão curto já teríamos dezenas de estudos epidemiológicos a demonstrar essa relação e os estudos laboratoriais seriam bem mais conclusivos dado que o Glifosato seria altamente genotóxico e facilmente se estabeleceria o seu potencial carcinogénico.
Comportamentos errados da Monsanto
A Monsanto não é nenhuma empresa santinha e ninguém está aqui a defender a Mosanto. Aliás, em tribunal foi demonstrado que a Monsanto tinha comportamentos pouco éticos como ghostwriting. Ou seja, escrevia artigos ou iniciava a escrita de artigos que eram assinados por cientistas com reputação para lhes dar credibilidade. Também tinha práticas pouco éticas no que diz respeito a pagar a peritos como consultores e não divulgar esses pagamentos, o que pode levantar questões de conflitos de interesse quando saem avaliações sobre a segurança do Roundup.
Isto tudo aconteceu. Não devia ter acontecido.
No entanto, mesmo tendo em consideração esses maus comportamentos, a ciência sobre a carcinogenicidade do produto continua a não existir, como iremos ver mais à frente.
E isto é outra coisa que é importante que se perceba. Os ataques ferozes contra o Glifosato nada têm a ver com este pesticida em si. Tem a ver com o facto de ser uma peça central nos cultivos transgénicos resistentes ao glifosato. É fácil de perceber isso dado que, como já falamos, o Glifosato é mais seguro que 90% dos pesticidas utilizados. E neste artigo é possível perceber a quantidade de pesticidas que foram abandonados em detrimento do Glifosato. Pesticidas muito mais tóxicos. Sabendo que existem no mercado pesticidas muito mais tóxicos que o Glifosato, o leitor terá que se perguntar porque é que este é o alvo preferencial.
Outra ponto que é importante estabelecer é que quando este blog “defende o Glifosato”, está a defender a saúde de toda a população. Porque uma coisa lhes garanto…se o Glifosato for retirado do mercado, outros herbicidas tomarão o seu lugar. Herbicidas com um perfil de toxicidade pior que o glifosato. E isso não será bom nem para o ambiente, nem por questões de segurança alimentar.
Manipulação de estudos e supressão de evidência científica
Mas há mais…os advogados do DeWayne Johnson acusaram a Monsanto de tentar suprimir evidências que o glifosato causava cancro. Supostamente, nos emails, foram encontradas provas de estudos realizados pela própria empresa que demonstrava que o glifosato é carcinogénico. Este é um argumento que circula na net. No entanto, eu não detetei absolutamente nada sobre isso. O que detetei foi a acusação de supressão de provas que o glifosato era carcinogénico usando o exemplo do caso Séralini. O que é simplesmente cómico.
Para quem não está familiarizado com o caso Séralini
De forma resumida, Séralini é o Andrew Wakefield dos transgénicos e glifosato (já falamos do Wakefield aqui). Usar o Séralini para justificar posições sobre estes temas será o mesmo que eu usar o Wakefield para dizer que as vacinas causam autismo.
Séralini é um consultor da Sevene Pharma (uma empresa farmacêutica homeopática), e também parece estar ligado ao Invitation to Life, um culto New Age que acredita na cura pela fé. Grandes referências, certo? Um tipo fica logo cheio de confiança no que aí vem.
Em 2012, Séralini publicou um estudo que supostamente demonstrou que ratos alimentados com milho geneticamente modificado resistente ao glifosato ou expostos ao glifosato desenvolviam cancro em taxas anormalmente altas. Para ter a certeza que havia mediatização suficiente, os investigadores fizeram questão de tirar fotos aos ratos com neoplasias gigantescas, indo contra os princípios éticos estabelecidos para os estudos em animais.
Nenhuma informação útil é obtida após a formação de um tumor. Os animais deveriam ter sido eutanasiados bem antes dos tumores atingirem 25% do seu peso corporal. Aliás, as regras de estudos em animais nos EUA afirmam que os ratos devem ser submetidos a eutanásia quando os tumores atingirem 40 mm de diâmetro, o que claramente não aconteceu.
Mas o problema não foi esse. O problema é que o estudo era uma autêntica bosta…tal e qual o estudo do Andrew Wakefield, vacinas e autismo. No entanto, isso pouco interessou à comunicação social. Logo após a publicação, vários sites de notícias usaram o estudo como “prova” de que alimentos geneticamente modificados e o glifosato eram perigosos e podiam causar cancro. Como agora se usa o caso DeWayne Johnson como “prova” que o glifosato é cancerígeno.
Após a publicação do estudo Séralini, vários investigadores enviaram cartas ao editor exigindo a remoção do estudo por ter falhas metodológicas graves. As principais eram, para além de ser um estudo em ratos com uma amostra muito pequena, (1) não reportar as doses com as quais os animais foram alimentados, (2) não haver análise estatística adequada que permitisse chegar às conclusões a que o estudo chegou e (3) Séralini ter escolhido uma linhagem de ratos que se sabe terem uma taxa anormalmente alta de cancros, o que introduz ruído no estudo.
Os resultados simplesmente não eram interpretáveis. E para serem interpretáveis, foi pedida informação a Séralini que recusou fornecer, o que é uma Red Flag fatal. É que sem essa informação, cientistas independentes não podiam replicar o estudo, uma prática fundamental na medicina baseada na evidência.
Mas mesmo analisando o pouco que o estudo fornecia, aquilo não tinha nada de especial. As curvas de sobrevivência não mostravam absolutamente nenhuma tendência. Não havia qualquer relação dose-resposta.
As academias francesas de Agricultura, Medicina, Farmácia, Ciência, Tecnologia e Ciência Veterinária classificaram o estudo como um “não-evento científico“. A EFSA, a Agência Francesa para a Saúde Alimentar, Ambiental e Ocupacional & Segurança (ANSES), a Health Canada, a Food Standards da Austrália e Nova Zelândia, a Bundesinstitut für Risikobewertung da Alemanha, a VIB da Bélgica, a CIBIOGEM do México e várias outras agências governamentais notáveis e institutos de investigação também condenaram o estudo (todas as referências aqui). Claro que sites promotores de teorias da conspiração e anti-transgénicos acusaram os cientistas que criticaram o estudo de Séralini de estarem a soldo da Monsanto; no entanto, nenhum desses acusadores apresentou qualquer evidência de suborno.
Em Novembro de 2013, a revista que publicou o estudo de Séralini anulou a sua publicação. No dia seguinte, Séralini ameaçou processar a revista…mas o homem lá se acalmou quando o estudo foi republicado em Junho de 2014 na Environmental Sciences Europe, uma revista de Open Access cujos padrões de publicação são, digamos, mais “softs” – aconselho a ler sobre revistas predatórias.
Aqui entram os advogados
Portanto, o estudo de Séralini era uma nódoa autêntica, sendo essa a avaliação de toda a comunidade científica. Para além disso, Séralini escusou-se a responder com transparência às perguntas colocadas pelos colegas sobre os métodos do estudo. A remoção do estudo era a coisa mais correta a fazer.
No entanto, os advogados de DeWayne Johnson utilizaram uma troca que emails que tiveram acesso entre a Monsanto e Wallace Hayes, o editor da Food and Chemical Toxicology (onde o estudo de Séralini foi publicado inicialmente) pedindo-lhe que retratasse o estudo e reiniciasse o processo de revisão interpares. O que acabou por acontecer. Para os advogados do DeWayne Johnson, isto prova que a Monsanto pressionava cientistas para “esconder a toxicidade do glifosato”, principalmente porque depois de Wallace Hayes deixar de ser editor da revista, estabeleceu uma relação contratual com a Monsanto.
No entanto, como expliquei anteriormente, isso não tem qualquer influência no facto do estudo ser um nódoa e considerado uma nódoa por toda a comunidade científica e agências governamentais. O estudo tinha que ser removido assim como o estudo de Andrew Wakefield foi removido.
Advogados a serem advogados. Júri ignorante a levar-se pela emoção. Factos científicos colocados de lado.
Glifosato e Risco de Linfoma não-Hodgkin
Como expliquei acima, o glifosato ter sido o causador do cancro de DeWayne Johnson é praticamente impossível. Mas vamos rever a evidência da associação entre glifosato e linfoma Não-Hodgkin do ponto de vista de um aplicador de pesticidas, utilizando o artigo do Andrew Niss. Vamos começar pela figura abaixo, em resposta ao anúncio da IARC em como o Glifosato é um provável carcinogénio.
Na figura, cada ponto representa a estimativa de um estudo que avaliou o risco relativo de desenvolver cancro comparando pessoas que foram expostas ao glifosato e aquelas que não tinham estado expostas. Para interpretar a figura, os pontos no lado esquerdo da linha azul (menos de 1) significam que, em média, as pessoas que foram expostas ao glifosato tinham menor probabilidade de desenvolver aquele tipo específico de cancro que as pessoas não expostas. Pontos à direita da linha azul significam que as pessoas expostas ao glifosato tinham maior probabilidade de desenvolver esse tipo de cancro em comparação com pessoas que não foram expostas ao glifosato.
Algumas coisas importantes sobre esta figura: primeiro, é uma simplificação óbvia dos dados. Apresentar os dados desta maneira exclui a incerteza das estimativas de risco relativas. Quando um estudo apresenta as estimativas de risco relativo, geralmente também apresentam intervalos de confiança. Esses intervalos ajudam a descrever a incerteza associada à estimativa de risco – se o intervalo for grande, geralmente temos menos confiança de que é uma estimativa confiável de risco. De modo geral, se o intervalo de confiança apanhar o 1 (por exemplo, um intervalo de confiança entre 0.7 e 1.5), concluiríamos que a evidência é muito fraca para sugerir a existência de uma relação.
Em segundo lugar, se não houver uma associação real entre cancro e o glifosato, à medida que mais estudos forem feitos sobre esse assunto, esperaríamos ter um número de pontos semelhantes à esquerda e à direita de 1, ou talvez os pontos agrupados muito próximo de 1. O padrão para o cancro cerebral na imagem acima, por exemplo, é o que poderíamos esperar na presença alguns estudos pouco “potentes”. Uns mostram que existe risco aumentado (risco relativo maior que 1) e outros mostram a existência de um fator protetor (valores menores que 1).
Por outro lado, mesmo que os intervalos de confiança de um único estudo não sejam fortemente indicativos de uma associação, se estudos diferentes e independentes resultarem em estimativas pontuais maiores que 1, isso sugere que pode haver alguma coisa a acontecer. E é o que tem sido observado na associação entre glifosato e linfoma não-Hodgkin. Isso é importante, porque esse é o tipo de cancro especificamente enunciado na classificação de cancro da IARC, e o tipo de cancro envolvido no caso judicial.
Mas agora vamos entrar em mais detalhe…
A maioria dos estudos que associam o glifosato ao linfoma não-Hodgkin são estudos de caso-controlo. Este tipo de estudo pega num grande número de “casos” de pessoas com linfoma não-Hodgkin, encontra um grupo semelhante de pessoas sem a doença e, em seguida, tenta encontrar diferenças nos fatores de risco entre os grupos. Quaisquer fatores que são mais prevalentes no grupo “caso” (o grupo com a doença) são vistos como possíveis fatores de risco para a doença.
Os estudos de caso-controlo podem ser muito úteis, principalmente no estudo de doenças raras, mas apresentam vários problemas de desenho fundamentais que limitam as conclusões. Primeiro, se observarmos a pirâmide da evidência, percebemos que estão abaixo dos estudos de coorte e estudos randomizados e controlados na importância a que damos a este tipo de estudos:
Acima de tudo, este tipo de estudos estão sujeitos a viés de seleção (o grupo controlo pode não ser igual ao grupo de casos), a viés de memória (é um tipo de estudo retrospectivo e as pessoas têm que descrever o que aconteceu no passado. E como já falei, somos péssimos a recordar eventos), não servem para estabelecer relações de causalidade e é difícil controlar uma quantidade enorme de fatores confundidores.
Abaixo está uma figura resumindo todos os estudos de caso-controlo que estudaram a relação do glifosato e linfoma não-Hodgkin:
Como podemos observar, muitos dos intervalos de confiança contêm o 1 (significando não haver associação estatística entre o glifosato e o linfoma não-Hodgkin), mas todas as estimativas pontuais são maiores que 1. Portanto, embora haja muita variabilidade nos dados, a associação da exposição ao glifosato e o linfoma não-Hodgkin aparece em vários estudos.
Parece-nos lógico que, se vários estudos encontrarem uma associação semelhante, é mais provável que a associação seja real. Mas também é possível que essa associação apareça várias vezes simplesmente porque os investigadores estão à procura desse resultado. Os investigadores não perguntam, nestes estudos, todos os detalhes da vida dos participantes. Eles tentam fazer perguntas nos estudos de caso-controlo que poderão fornecer informações relevantes para o surgimento do cancro do qual padecem. Portanto, se o glifosato (ou outro pesticida) aparecer como uma causa potencial num estudo anterior, os estudos subsequentes incluirão perguntas sobre esse pesticida. O que faz sentido! Mas também tem o potencial de influenciar o resultado em favor de uma associação positiva se esses mesmos estudos não controlarem variáveis confundidoras. E como disse, é difícil fazê-lo neste modelo.
Mesmo assim, nos estudos acima os autores tentaram fazê-lo. Vários dos estudos de caso-controlo trabalharam dois ou três modelos diferentes comparando pessoas expostas e não expostas ao glifosato (mostradas na figura acima como múltiplos pontos e intervalos na linha para aquele estudo específico). A diferença entre os modelos foi geralmente uma tentativa de ajustar as variáveis confundidoras (como tabagismo ou histórico familiar de cancro).
Por exemplo, os estudos associaram o linfoma não-Hodgkin com atividades agrícolas desde o início dos anos 90 – no entanto, tem sido difícil descobrir exatamente quais atividades agrícolas são mais prováveis de ser as culpadas por essa associação. Isto porque os agricultores fazem muitas coisas diferentes, estando expostos a muitos riscos diferentes. Os agricultores, por exemplo, tendem a usar uma grande variedade de pesticidas; provavelmente também inalam mais poeiras; estão muito tempo ao sol; também estão mais expostos fluidos hidráulicos e vapores diesel; acordam mais cedo do que a população geral. Todos esses fatores são extremamente difíceis de controlar num estudo de caso-controlo.
Uma limitação adicional dos estudos de caso-controlo nesta área é que apenas uma fração muito pequena de casos de linfoma não-Hodgkin estava exposta ao glifosato. Por exemplo, apenas 97 pessoas (3,8% da população do estudo) foram expostas ao glifosato no estudo DeRoos (2003). Apenas 47 pessoas (2,4% da população do estudo) foram expostas ao glifosato no estudo de Eriksson (2008). Estes números são muito pequenos. Ou seja, apenas cerca de 3% dos casos de linfoma não-Hodgkin nestes estudos de caso-controlo estavam expostos ao glifosato e, portanto, cerca de 97% dos casos de linfoma não-Hodgkin nesses estudos não tinham nada a ver com o glifosato. Assim, mesmo que o glifosato aumente o risco de linfoma não-Hodgkin, será um fator residual para o surgimento de linfoma não-Hodgkin.
Mas os estudos caso-controlo não foram os únicos tipos de estudos utilizados para investigar a ligação entre o glifosato e o surgimento de cancro. Os estudos de coorte prospectivos são outro tipo de estudo observacional que evita algumas das limitações dos estudos de caso-controlo. No caso de um estudo de coorte prospectivo, as perguntas sobre os fatores que podem contribuir para o aparecimento da doença são feitas antes de qualquer um dos participantes do estudo ter a doença.
Nos estudos de caso-controlo, a pergunta é: “Que fatores de risco poderão ter causado essa doença?”
Num estudo de coorte prospectivo, a pergunta é: “Que doenças esses fatores de risco podem causar?”
Os investigadores tentam definir claramente um conjunto de fatores de risco a que os participantes do estudo de coorte prospectivo estão expostos. Depois os participantes são acompanhados por um período de tempo (às vezes, toda a sua vida) para observar que tipos de problemas de saúde acabam por desenvolver.
Obviamente que estes estudos de coorte também têm um conjunto de limitações, mas um estudo de coorte em particular – o Agricultural Health Study (AHS) – foi projetado com o uso de pesticidas explicitamente em mente. Quando se trata de verificar os efeitos específicos dos pesticidas é difícil fazer melhor do que o AHS. Este estudo tem mais de 50.000 participantes, muitos dos quais são aplicadores regulares de pesticidas.
É muito mais provável que este estudo consiga caracterizar, com precisão, o risco de exposição aos pesticidas em comparação com os estudos de caso-controlo. No início deste ano, os dados do AHS foram analisados para analisar possíveis associações entre o glifosato e o cancro, incluindo o linfoma não-Hodgkin. Nessa análise, Andreotti et al. (2018), dividiram os grupos de exposição ao glifosato em quartis (Q1 teve a menor exposição, Q4 teve a maior exposição) e compararam cada grupo com os participantes que não foram expostos ao glifosato:
Nos quatro grupos, as estimativas pontuais foram menores que 1, e os intervalos de confiança continham o 1. Isso sugere que a exposição ao glifosato não aumentou a probabilidade de os aplicadores de pesticidas desenvolverem o linfoma não-Hodgkin. E não importava a quantidade de glifosato a que os aplicadores estavam expostos, as estimativas de risco foram muito semelhantes.
Seria de esperar que, se houvesse uma relação de causalidade entre o glifosato e o linfoma não-Hodgkin, que à medida que a exposição ao herbicida aumentasse, a probabilidade de cancro também aumentasse. Mas essa tendência não foi observada. Neste grupo de 54.251 aplicadores de pesticidas, não houve relação entre a exposição ao glifosato e o linfoma não-Hodgkin. Este resultado é semelhante a análises anteriores dos dados de AHS, que também não mostraram associação entre o glifosato e o linfoma não-Hodgkin.
E este estudo – embora seja apenas um estudo – torna difícil atribuir um aumento do risco de linfoma não-Hodgkin ao glifosato. O maior conjunto de dados que temos (de longe), que faz o melhor trabalho (de longe) de contabilizar variáveis confundidoras, não mostra absolutamente nenhuma associação entre a utilização do glifosato e o desenvolvimento do linfoma não-Hodgkin. Por isso, é incompreensível a decisão do tribunal no caso de DeWayne Johnson. Não só existe um tempo de exposição extremamente curto ao glifosato, como a evidência existente não parece suportar, na sua globalidade, um risco aumentado de cancro.
Fonte: Scimed