Portugal é um país com acentuada vocação florestal, sendo um importante recurso natural e uma riqueza estratégica a nível ambiental, paisagística, social e económica. Geradora de capital, promotora de emprego, motor de desenvolvimento, é também um importante sumidouro de carbono. A sua rentabilização e proteção exigem um eficaz ordenamento florestal e a implementação de medidas que façam face às múltiplas ameaças de forma a promover a sua sustentabilidade.
As florestas são um recurso natural essencial à vida e ao desenvolvimento dos países, devendo ser analisadas nas suas múltiplas funções (Fig.1). Entendidas como espaços à inteira disposição do Homem para as suas atividades, expansões e domínios, foram delapidadas, sem regra nem limites, ao longo dos séculos.
Fig.1 – Floresta no Parque Nacional da Peneda-Gerês. PEDRO DIAS / WIKIPÉDIA
No início do século XX, Portugal tinha uma exígua área florestal (cerca de 2%), resultado de séculos de desarborização. Desde então, viu crescer a sua cobertura florestal para 36% (Fig.2), graças a campanhas de arborização, à substituição das matérias-primas vegetais pelas artificiais com base no petróleo e a uma progressiva transição florestal, traduzida pela conquista de antigos terrenos agrícolas pela floresta.
Fig.2 – Usos do solo em 2018. ICNF
A floresta tem para o nosso país uma importância incalculável, ocupando cerca de um terço do território. Além do seu valor ambiental, na regularização do ciclo hidrológico, proteção microclimática, sequestro de carbono, fixação dos solos, preservação da biodiversidade, diversificação dos padrões da paisagem, contribuindo para a atividade turística e de lazer, é também uma verdadeira “farmácia natural” ao dispor do Homem.
Salienta-se ainda a sua importância económica e social, sendo um dos principais pilares das exportações portuguesas e importante setor em termos de emprego, principalmente em áreas rurais. A produção de bens como a resina, o mel ou os frutos, mas principalmente os produtos das indústrias de base florestal (madeira, cortiça, pasta e papel) têm contribuído para a criação de valor e para o PIB nacional, com um valor de 8,8% para as exportações nacionais (Fig.3).Fig.3 – Exportações florestais, 2018. FLORESTAS.PT
Dada a necessidade de matérias-primas, as espécies dominantes em Portugal (Fig.4) são o eucalipto, que ocupa atualmente maior área devido à sua expansão nos últimos anos, o sobreiro, com um ligeiro decréscimo desde 1995 e o pinheiro-bravo, em regressão devido a pragas, incêndios e opção dos proprietários por espécies de crescimento rápido e de maior rentabilidade. A propriedade é maioritariamente privada, condicionando as opções das espécies a produzir, mais dependentes da dinâmica do mercado do que do valor ecológico das mesmas.Fig.4 – Repartição da área total florestal por espécie/grupo de espécies. ICNF 2019
A espécie mais emblemática é o sobreiro que oferece um produto de eleição, a cortiça, e uma paisagem deslumbrante pela simplicidade. Em conjunto com a azinheira, forma o famoso montado (Fig.5) de sobro e azinho (Fig.6), habitat de resistência, de proteção e de dinamização de atividades complementares como a pecuária extensiva.
Fig.5 – Panorâmica de montado, em Castro Verde. FORCASTRO / WIKIPÉDIA
Fig.6 – Sobreiro (em cima) e azinheira (em baixo). ICNF
Regionalmente (Fig.7), quase metade dos municípios têm mais de 60% de ocupação florestal (Fig.8), destacando-se a região Centro, onde os incêndios têm dizimado vastas extensões, dando origem a manchas florestais desordenadas, predominantemente de eucalipto, seja por repovoamento ou de forma selvagem e espontânea, com elevado impacte ambiental e paisagístico.
Fig.7 – Espécies vegetais autóctones em Portugal. ICNF
Fig.8 – Ocupação florestal por concelho (%), 2018. DGT
O domínio progressivo do eucalipto tem levantado polémica, mas o seu papel económico e atrativo para os produtores deve ser ponderado, sob pena de aumentar o abandono, devendo-se antes ordenar e gerir de forma sustentável o território, promovendo a coexistência equilibrada entre espécies.
Para além dos incêndios (Fig.9) com consequências devastadoras como as que se verificaram nos fogos de 2017, ceifando vidas humanas, deparamo-nos com um espaço rural demograficamente deprimido, propriedades de pequena dimensão, anarquia no cadastro dos terrenos, desequilíbrios na constituição dos povoamentos florestais, circunstâncias climatéricas cada vez mais adversas e comportamentos de risco e criminosos.
Fig.9 – Floresta queimada. HIPPOPX
É imprescindível adotar soluções que visem a sustentabilidade destes territórios, tais como:
- limitação de manchas contínuas da mesma espécie;
- criação de corredores de segurança e áreas de contenção;
- dotação das populações de meios de intervenção imediata e formação na sua autoproteção;
- fiscalização mais eficaz, obrigando ao cumprimento da legislação em vigor;
- criação de cadeias de reutilização dos resíduos florestais provenientes das limpezas, (não intensivas para permitir a infiltração de água);
- penalizações para comportamentos de risco e criminosos;
- preservação e criação de incentivos a núcleos de vegetação natural constituídos por espécies florestais folhosas, por exemplo, carvalhos.
Paralelamente, é necessário:
- criar incentivos à fixação de população nos denominados territórios de baixa densidade;
- incentivar o emparcelamento e o associativismo, definindo entidades de gestão a nível local, por exemplo, a partir das Juntas de Freguesia;
- fomentar a criação de “incubadoras” associadas à floresta, com apoio técnico em processos de candidatura a programas de apoio ao setor.
SÍNTESE
- A floresta tem uma importância significativa a nível ambiental, social, económico e paisagístico, sendo um recurso com inúmeras valências e potencialidades, imprescindível para a sustentabilidade do Planeta.
- Portugal possui uma importante mancha florestal, sendo uma das maiores da Europa. Uma parte significativa da floresta portuguesa serve a produção de matérias-primas para as celuloses, as corticeiras e as madeireiras, mas há também bosques naturais com um papel muito relevante, principalmente em áreas protegidas.
- As ameaças à floresta portuguesa, com destaque para os incêndios florestais, pragas que assolam algumas espécies e condicionantes estruturais, exigem a criação de instrumentos de gestão e de ordenamento florestal, bem como a adoção de medidas urgentes de preservação e proteção da floresta portuguesa.
O artigo foi publicado originalmente em RTP.