O ministro dos Negócios Estrangeiros defendeu hoje que “este é o momento” em que a União Europeia (UE) deve “procurar fazer todo o investimento necessário para chegar a um entendimento com o Mercosul”, advertindo que resta pouco tempo.
Em declarações por telefone à agência Lusa desde Roma, depois de um encontro com o seu homólogo italiano, Antonio Tajani, no qual foram abordadas várias questões de política externa, incluindo as relações com a América Latina, João Gomes Cravinho confirmou que um dos tópicos abordados foi “a importância do acordo com o Mercosul”, o bloco comercial composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
“Sabemos que acabou de ser apresentada uma contraproposta em relação ao chamado instrumento adicional para o acordo. Ainda não a conhecemos, portanto não posso comentá-la, mas acredito – e, nessa matéria, Tajani também mostrou completa concordância -, que seja um momento fundamental para avançarmos”, disse o chefe da diplomacia portuguesa.
“Se não o fizermos agora, se não conseguirmos encontrar forma de concretizar o acordo nos próximos dois, três meses, entraremos numa fase em que o próprio Parlamento Europeu se dissolve para efeitos de campanha eleitoral e temos eleições europeias em junho [de 2024], portanto este é o momento crucial, este é o momento em que temos de facto de procurar fazer todo o investimento necessário para chegar a um entendimento com o Mercosul”, sustentou.
Na quarta-feira, o chefe da diplomacia brasileira, Mauro Vieira, anunciou que o Mercosul já apresentou a sua contraproposta à UE para tentar concluir a ratificação do tratado entre os dois blocos, cuja negociação começou há 23 anos.
A proposta do Mercosul é uma resposta aos novos requisitos ambientais apresentados pela UE no início do ano, que levantam a possibilidade de impor sanções e restrições comerciais pelo não cumprimento dos requisitos ambientais.
Em declarações a uma rádio pública brasileira, Vieira afirmou que o Mercosul, principal parceiro económico da UE na América Latina, com uma participação de quase 40% do comércio total, quer que o bloco europeu seja flexível nas suas exigências ambientais.
Disse, ainda, que a UE deve ter em conta que “o Brasil tem uma política muito clara para a preservação da Amazónia”, que prometeu acabar com a desflorestação da maior floresta do planeta até 2030 e promover a recuperação de terras rurais degradadas.
“Não posso dar nenhuma garantia de que a União Europeia aceitará, vamos negociar”, disse Vieira, cujo país ocupa neste semestre a presidência rotativa do Mercosul.
No entanto, o ministro brasileiro manifestou-se confiante de que as negociações para o acordo comercial entre os dois blocos possam ser concluídas, porque, destacou, tanto a UE como o Mercosul declararam “ao mais alto nível que se trata de um acordo estratégico.”
Vieira revelou que os negociadores dos dois blocos realizaram uma reunião virtual na última segunda-feira e se reunirão presencialmente em solo brasileiro no dia 15 de setembro.
O Mercosul e a UE retomaram, no início do ano, as negociações para concluir o acordo preliminar que ambos os blocos alcançaram em 2019, após duas décadas de negociações.
Estas negociações foram complicadas pelas novas exigências ambientais levantadas por Bruxelas, que foram descritas como inaceitáveis pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, é um dos líderes que mais criticou publicamente a nova posição europeia, definindo essas exigências ambientais como “protecionismo verde”.