A subida da temperatura global favorece a proliferação de fungos nos cereais, o que aumenta a presença de toxinas carcinogénicas em alimentos como o pão e as bolachas.
As alterações climáticas têm efeitos adversos óbvios na agricultura, como o aumento do custo de produção e a diminuição da quantidade e qualidade da colheita. O que pode ser menos intuitivo é a repercussão que estas mudanças têm na comida que colocamos no prato e, por extensão, as doenças que podem potenciar. Um exemplo: a subida da temperatura global favorece a proliferação de determinados fungos nos cereais, o que aumenta a presença de toxinas potencialmente carcinogénicas nos grãos que utilizamos para fazer pão, bolachas e cereais para o pequeno-almoço.
“Estas toxinas naturais são produzidas por fungos. Todos os microrganismos têm uma temperatura óptima de crescimento, e um intervalo de temperaturas nos quais conseguem proliferar-se. Diferentes espécies de fungos têm diferentes temperaturas óptimas de crescimento. Se a temperatura vai subindo – que é o que se tem verificado na zona mediterrânica –, fungos diferentes vão ter oportunidades de crescimento”, explica Carla Martins, investigadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa (ENSP – Nova).
Estes eventos biológicos ocorrem durante o cultivo, transporte e armazenamento de cereais e representam um risco, uma vez que tais micotoxinas estão associadas ao aparecimento de cancros. A especialista em segurança alimentar explica que tais contaminantes “são muito difíceis de evitar”. “Se nas nossas próprias casas isto acontece, imagine num silo ou num campo de cultivo. Diferentes fungos crescerão e produzirão diferentes toxinas. É por isso que dizemos que o padrão de exposição da população vai mudar, estaremos expostos a novas toxinas carcinogénicas. Podemos até estar expostos às mesmas, mas certamente em padrões de frequência e concentração díspares”, conclui a investigadora.
Vinho, café e chocolate
A população portuguesa já está exposta a estas micotoxinas, que são potencialmente carcinogénicas. Assim, o desejável é que a frequência e concentração desses contaminantes alimentares não aumente. “Estamos expostos em alimentos que nos são muito queridos: pão, vinho, café e chocolate. Só coisas boas! Isto pode implicar uma exposição acentuada de grupos de população vulnerável – como é o caso das crianças, que consomem […]