Vladimir Putin ordenou esta madrugada uma ofensiva militar contra a Ucrânia, confirmando os piores receios de analistas. As sanções vão endurecer e a bolsa russa foi alvo de um crash. A economia europeia arrisca sofrer danos colaterais, com preços da energia ainda mais caros e com o esfriamento nas relações comerciais com um dos seus principais parceiros
O cenário mais temido confirmou-se. A Rússia lançou um ataque de larga escala à Ucrânia e não circunscreveu a sua intervenção militar à região de Donbass. Isso irá trazer mais sanções para Moscovo – a Comissão Europeia, por exemplo, já anunciou que iria anunciar mais um pacote de penalizações económicas – que isolarão cada vez mais a 11ª maior economia do mundo, com um PIB de 1,65 biliões de dólares. “Vamos congelar os ativos russos na União Europeia e parar o acesso dos bancos russos ao nosso sistema financeiro”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen esta quinta-feira.
A reação dos mercados financeiros permite perceber quais os potenciais impactos económicos deste conflito. Os investidores estão a querer abandonar ativos russos o mais rápido possível, o que levou a um crash na bolsa de Moscovo – com um dos principais índices a tombar 35% – e a uma queda de 9% do rublo. O risco de a Rússia se tornar um pária nos mercados financeiros é agora muito mais elevado. A economia desse país depende bastante do investimento dos países da União Europeia, que é o maior investidor estrangeiro no país liderado por Putin.
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Preços mais altos na energia e nos alimentos
Se a Europa estava já a passar por uma crise energética, esses problemas vão adensar-se já que a Rússia fornece 26% do petróleo e 40% do gás consumidos na UE. A agressão de Putin à Ucrânia já levou a que uma das principais armas para ajudar a mitigar os preços altos da energia – a entrada em funcionamento do novo gasoduto Nord Stream 2 – ficasse em suspenso. A Alemanha anunciou esta semana que não iria certificar essa infra-estrutura. Após essa decisão de Berlim, o antigo presidente russo e atual vice-presidente do conselho de segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, disse que os preços do gás natural iram duplicar.
A subida dos preços da energia acentuou-se esta quinta-feira, após o início da intervenção militar russa na Ucrânia. Nos Países Baixos, os contratos de futuros sobre gás natural que servem como referência para muitas empresas europeias dispararam entre 20% e 30% nos prazos mais curtos durante a manhã desta quinta-feira, para mais de 88 euros por Megawatt-hora. Já o petróleo superou pela primeira vez em oito anos a fasquia dos 100 dólares, com o brent a valorizar mais de 7% esta quinta-feira. Assim, se os preços da eletricidade e dos combustíveis já estão historicamente altos, esta tendência deverá agravar ainda mais esse problema.
Além dos preços da energia, a Rússia e a Ucrânia são dos maiores produtores mundiais de cereais. Os dois países foram responsáveis por 23% da exportação mundial de trigo, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA. A Ucrânia tem uma quota de 16% nas exportações de milho. O efeito destrutivo de uma guerra na produção estão também a fazer disparar os preços destes bens. O trigo e o milho valorizam mais de 5% esta quinta-feira.
Antes de o conflito estalar, os preços dos cereais também estavam já perto de máximos históricos e a guerra na Ucrânia poderá acentuar esse problema, podendo originar crises em vários pontos do mundo por escassez de bens alimentares. Um dos fatores que tem levado a esses maiores custos tem sido a escalada dos preços dos fertilizantes. A Rússia é também a […]