Se bem se recordam, logo após a tragédia de Pedrogão, o Governo e a maioria Parlamentar da Geringonça aprovaram à pressa um profundo, mas nem assim adequado, pacote de medidas no plano da floresta e do ordenamento de território. Chegou a ser apelidado, de forma claramente exagerada, por Capoulas Santos como a “maior reforma desde o tempo de D.Dinis”. Ontem, à saída de Belém, António Costa confessou que o seu Governo nunca deu a devida atenção à floresta e que esta “nunca foi uma prioridade política no Ministério da Agricultura”. António Costa apunhalou pelas costas o seu ministro da Agricultura e o secretário de Estado das Florestas, Miguel Freitas.
Diga-se, em abono da verdade que, apesar das reformas aprovadas após Pedrogão terem sido no sentido errado e não passarem de um embuste político (com a particular participação do então secretário de Estado Amândio Torres, mas também do BE, PCP e Verdes), o discurso desde então feito por Capoulas Santos, mas sobretudo por Miguel Freitas, ia no sentido correto e fazia prever mudanças profundas para o futuro. Ficava a sensação que as novas mudanças iriam mais ao encontro das políticas defendidas pelo PSD e pelo CDS e que não seriam estranguladas pelo populismo, ignorância e preconceito de certos sectores do PS, do BE e PCP pelo mundo rural.
Com a confissão de ontem, António Costa veio dar razão a 4 anos de críticas do PSD, bem como dos mais importantes especialistas do sector, que sempre acusaram o Governo de não ter feito uma reforma da floresta, de a ter usado como propaganda e menorizando a sua relevância na economia e no ordenamento do território. Na verdade, passados dois anos da maior tragédia ocorrida em incêndios rurais que motivou a tal pseudo-reforma da floresta, António Costa termina de vez com o tema e acaba com a Secretaria de Estado das Florestas (em 50), despromove o sector, o mundo rural e o ordenamento do território. Em 30 segundos desprezou e desmentiu o seu próprio passado. Agora sim é que as florestas perdem autonomia, e prioridade política, já que passam a estar integradas na nova Secretaria de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território.
O principal problema de António Costa é fazer dos portugueses parvos, é justificar insucessos da sua responsabilidade atirando areia para os olhos das pessoas ou para governos anteriores. Agora tem um novo truque que revela o seu carácter político: espetar facas nos seus ajudantes e renegar o que fez nos últimos 4 anos.
Há aqui uma nota comum às várias mudanças neste novo Governo: os erros do passado que não eram erros, segundo António Costa e a sua máquina de propaganda, mas pelos vistos já são suficientemente importantes por deixarem de existir e serem até objeto de comunicação. As relações familiares não eram um problema, mas afinal salientam o facto de não haver agora ligações familiares no novo executivo. A floresta sofreu a maior reforma desde D.Dinis mas, afinal, nunca foi prioridade deste Governo. Até há uns meses, o SNS estava melhor do que nunca, mas, afinal, vai ser a prioridade dos próximos quatro anos. Segundo a propaganda da Geringonça, os serviços públicos não estavam em colapso, mas agora vão merecer toda a atenção do Governo. A Educação estava uma maravilha em outubro, mas há agora escolas fechadas por falta de funcionários, milhares de alunos ainda esperam por professores e muitos ainda não receberam os prometidos livros gratuitos. Centeno tem sido um sucesso, mas o Governo deve dinheiro a toda a gente e em particular os bombeiros não recebem honorários desde agosto.
Realmente com tanto discurso sobre tudo e o seu contrário, será que António Costa se chega a aperceber que não é apenas a realidade que o desmente, mas que é, acima de tudo, ele próprio que o faz constantemente ao querer, por uma questão de imagem, adequar as palavras mais simpáticas e convenientes às diversas situações, esquecendo-se do que disse e fez no passado?