Uma associação ambientalista, a FAPAS, emitiu há dias um comunicado a criticar a instalação de passadiços e baloiços. Algumas dessas críticas até sou capaz de subscrever: que a instalação devia ser alvo de estudo de impacto ambiental (pensei que sempre fosse), que se deviam privilegiar os trilhos e caminhos existentes (mas atenção às pessoas de mobilidade reduzida), que a manutenção e segurança pode ser deficitária (dos baloiços, suponho), que o excesso de visitantes pode perturbar a fauna local e que se corre o risco de ser uma moda passageira e ficarem estas estruturas ao abandono dentro de alguns anos.
Confesso ainda que também vi uma foto de um passadiço que me pareceu “aberrante”. Mas o título “Basta de ecoparolices…” e o desenvolvimento do texto para além dos pontos que referi fez-me sentir uma arrogância, uma espécie de “eco-elitismo” a fazer “ecobullying” sobre os passadiços. E, não por ser promotor ou frequentador de passadiços, mas por sentir a nossa agricultura, a agricultura que produz comida, também muitas vezes vítima de agro-bullying, dessa agressividade que as redes sociais potenciam, sinto-me solidário com os “parolos” que constroem ou frequentam passadiços. E tenho a dizer que lamento não ter tido tempo para percorrer mais vezes o passadiço litoral entre Árvore e Mindelo (aqui ao pé) ou o extenso e largo passadiço de Montegordo, que só tem o defeito de ficar longe, isto na minha modesta opinião de “parolo” que gosta de passar férias no Algarve.
A necessidade de nos protegermos do covid tirou-nos dos centros comerciais e reforçou o “regresso à natureza”, uma moda boa que já tinha começado antes. Vejo com bons olhos que o meio rural semi-abandonado receba a visita do “povo” da cidade e não apenas dos especialistas ambientalistas. Que os restaurantes perdidos na serra possam servir a chanfana das cabras que ainda limpam os terrenos à volta das aldeias, os bifes das vitelas que pastam nos lameiros e os queijos das ovelhas que sobem as serras.
Tenho aproveitado alguns momentos livres para percorrer alguns trilhos aqui próximos, para ouvir os pássaros e ensinar aos miúdos coisas tão simples como distinguir carvalhos, sobreiros, pinheiros e eucaliptos das nossas bouças. Bouças que fazem parte das nossas casas de lavoura, do nosso complexo agro-florestal. Bouças que estarão cuidadas se não forem santuários intocáveis, mas se houver um corte regular e responsável das árvores para que as mais novas possam crescer. Dos eucaliptos que servem para fazer o papel com que querem substituir o plástico…. Convido-vos a fazer o mesmo, a caminhar, desfrutar do ar livre, relaxar, respirar fundo e procurar na natureza mais paz, tranquilidade para reduzir o stress, a agressividade e o bullying nas redes sociais. Para termos mais “eco-respeito” pela natureza e pelos outros. Paz e amor! Bom fim de semana!
#carlosnevesagricultor
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.