“A agricultura, à parte do turismo, é o sector da economia que mais cresce e mais resistiu durante a crise”. A frase foi proferida há dias por Capoulas Santos, ministro da Agricultura. No Alentejo, o setor representava em 2017 36% do volume de negócios das empresas que ali têm sede, mais do que em qualquer outra zona do país.
Quinze anos depois de Alqueva ter enchido a região de água, multiplicam-se os investimentos em novas culturas. Segundo o Anuário Agrícola de Alqueva de 2018, nos 120 mil hectares de regadio que compõem o Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva está previsto o desenvolvimento de novos projetos como o bambu, cana para paletes, pistacho, cânhamo, abacate ou algodão. Entre as culturas que já se instalaram graças ao regadio conta-se o mirtilo, a beterraba, a romã ou a amêndoa.
Em 2015 havia 975 hectares de amendoal no Alentejo. Só em 2018 foram inscritos quase sete mil. E se o Alentejo sempre foi chão que deu uvas para vinho, mais recente é a plantação de uvas de mesa. O Vale da Rosa, em Ferreira do Alentejo, existe há quatro décadas e quase detém o monopólio da produção. Mas nos últimos anos tem surgido concorrência. É o caso da Pomares do Sol, que começou a produzir uvas, com e sem grainha, em Serpa em 2016.
O dono da quinta, um espanhol que vive em Marrocos há perto de 50 anos, viu no oásis do Alqueva um oceano de oportunidades. O investimento foi de dois milhões de euros. “Em comparação com outras culturas tipicamente alentejanas o nosso terreno é muito pequeno, tem 42 hectares. Mas o objetivo é criar um projeto em grande”, conta ao DV Paulo Amante, diretor da empresa desde 2017.
A Pomares do Sol nasceu com a meta de exportar toda a produção, mas tem vindo a podar os objetivos. No ano passado 25% das uvas já ficaram em Portugal, nas prateleiras dos grupos Jerónimo Martins, SPAR e Lidl. Mas nas próximas vindimas a empresa quer aumentar ainda mais o peso do mercado nacional.
“Os custos de embalamento são os mesmos mas o transporte e a logística é mais fácil. Ter visibilidade em Portugal interessa-nos”, diz o diretor. Lá fora, as uvas do pomar de Serpa chegam a vários países europeus, mas também à Nigéria e ao Dubai. E tal como na Maporal, “se houvesse mais, vendia-se mais. Está sempre tudo vendido”.
Por falta de espaço, a Pomares do Sol não prevê aumentar a quantidade de vinha plantada. Mas é possível otimizar a que já existe. “Temos 10 setores de vinha, oito com uva sem grainha e dois com grainha. Mas provavelmente no próximo ano será tudo sem grainha, porque é o que as pessoas querem. Dá mais trabalho mas as condições comerciais são melhores”, admite Paulo Amante.
O responsável até percebe a aversão pelas grainhas, mas há características específicas de cada mercado que são um mistério. Os portugueses preferem uva branca, e se for preta tem de ser muito escura. Para Inglaterra pode ir um fruto mais claro e menos doce. Também por isso, quando chegam às sete da manhã ao pomar, os trabalhadores já sabem qual o destino das uvas que vão apanhar e embalar nesse dia. “Hoje de manhã é para o Pingo Doce, enquanto a colheita da tarde vai para Inglaterra”.
Com setembro a meio e a vindima perto do fim, a empresa já tem traçados os planos para os meses em que não há uvas para colher. Além da vinha, a Pomares do Sol tem uma unidade de embalamento que quer pôr a funcionar o ano inteiro. A experiência foi feita no ano passado com uva importada do Brasil e embalada em Serpa, e será repetida este ano. A curto ou médio prazo a intenção é alargar o embalamento a outras culturas.
Alentejano de gema e agricultor por vocação, Paulo Amante assistiu de camarote à enxurrada de investimentos que o Alqueva tornou possíveis. “Hoje já não há tanta terra disponível e os valores já não são os mesmos, mas ainda há muito investimento por fazer. E é bom ver que muito desse investimento é português, porque se estamos à espera do dinheiro dos fundos não fazemos nada”.