O consumo de ovo, leguminosas e peixe gordo está abaixo do recomendado nas creches, de acordo com um estudo de uma associação de Braga, coordenado cientificamente pela Faculdade de Ciências de Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP).
Segundo o estudo, hoje divulgado, da Associação Cultural e Recreativa de Cabereiros (Braga), cofinanciado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), nos almoços “verificou-se o défice da oferta de leguminosas (menos de uma vez por semana) e de ovo como principal fonte proteica (menos de duas vezes por mês)”, no segmento dos 09 aos 11 meses de idade.
O relatório, realizado no âmbito do projeto C2S – Creche com Sabor e Saúde, avaliou 18 Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) que apoiam 850 crianças nos distritos de Braga, Porto, Viseu, Coimbra e Leiria, refere também que foi detetada “a presença de sopa com proteína animal mesmo quando já era oferecido prato completo”.
Já dos 12 aos 36 meses, “destacou-se o baixo recurso ao ovo como principal fonte proteica (menos de duas vezes por mês), ao peixe gordo (menos de uma vez por mês) e a métodos de confeção como ensopados, caldeiradas e jardinagens (menos de uma vez por mês)”.
“No que diz respeito aos lanches oferecidos, apurou-se que todas as instituições ofereciam alimentos ricos em açúcares simples e gorduras tais como leite com chocolate, cereais de pequeno-almoço, pães de leite e bolachas”, pode ainda ler-se no documento.
O estudo detetou ainda que, apesar da quantidade por pessoa (capitação) estar “de acordo com o recomendado”, foi “facilmente percetível o excesso da capitação relativa ao fornecedor de hidratos de carbono e ao défice da capitação de hortícolas”.
Até aos 11 meses, a fruta foi oferecida “em excesso”, mas a partir do primeiro e segundo ano de vida, “a porção dada ao almoço estava correta, se considerarmos que as crianças comem três vezes fruta por dia”.
“Nas instituições avaliadas durante uma semana, mais de 80% colocam sal na sopa a partir dos 6 meses e todas o fazem a partir dos 9 meses”, refere ainda o estudo.
Já quanto às condições higienossanitárias, “avaliaram-se 23 unidades através da ferramenta criada para o efeito, tendo-se apresentado, em média, 23,5% de não conformidades (NC)”, especialmente nos domínios de ‘atividades de monitorização e verificação’ (45,3% de NC) e ‘armazenamento em temperatura ambiente’ (37,0%).
Como o estudo incluiu uma dimensão de intervenção após o diagnóstico, “verificou-se uma melhoria na percentagem de conformidades na avaliação dos planos de ementas de 15,5%, tendo em conta a avaliação inicial (70,3%) e final (80,7%)”.
“Conclui-se que todas as instituições parceiras melhoraram a sua oferta alimentar, a nível da refeição de almoço”, refere o estudo.
Também na dimensão higiossanitária se verificou uma melhoria “de 24,1% no número de NC, tendo em conta a avaliação inicial (23,4%) e final (17,8%)”.
O relatório ilustra, “pela primeira vez, a realidade relativa ao ambiente em torno da oferta alimentar das creches portuguesas”, e os resultados serão agora convertidos em linhas de orientação para alimentação saudável dos 0 aos 3 anos em contexto de creche, segundo a FCNAUP.