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– 21-08-2005 |
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Bragan�a: Duas aldeias separadas pela raia, que viveram sempre sem fronteirasBragan�a, 20 Ago O espôrito de entreajuda e trabalho conjunto dos cerca de 70 habitantes continua a atrair curiosos � aldeia de Rio de Onor, a pouco mais de 20 quil�metros de Bragan�a, considerada um dos �ltimos redutos do comunitarismo em Portugal. No aglomerado de casas de pedra com telhados de xisto, povoado de utens�lios tradicionais como os carros de bois, vivem mais 13 habitantes, com outra nacionalidade: falam castelhano, t�m um fuso hor�rio diferente e respondem perante a monarquia espanhola. A divisão administrativa que separa Rio de Onor de Riohonor � impercept�vel para os habitantes, que a partir de agora v�o trabalhar em conjunto no rec�m-criado conselho comunitário "Rio Honor de Europa". O novo organismo formaliza apenas a rela��o j� existente entre as duas aldeias, que sempre viveram sem fronteiras, mesmo quando os dois países eram separados por correntes. "Os outros (gente de fora) � que não deixavam passar, sem irem ao posto pedir aos guardas, n�s não precis�vamos", conta Ana Maria Preto, filha de m�e espanhola, de Riohonor, e pai portugu�s, de Rio de Onor. Ana Maria nasceu espanhola, mas acabou por naturalizar-se portuguesa e casar-se com um portugu�s. Aos 83 anos, recorda que o casamento entre pessoas dos dois lados era habitual. "Cada um tratava dos pap�is no seu país". Presente na mem�ria de Ana Maria e dos restantes habitantes permanece o dia em que M�rio Soares visitou a aldeia, enquanto presidente da República, no final d�cada de 1980. "Disse: vou pôr um p� em Espanha, mas não posso passar porque não estou autorizado", recordou Ana Maria. As duas aldeias festejaram, quando, no in�cio da d�cada de 1990, a Europa sem fronteiras retirou as correntes que separavam os dois povos, mas que nunca foram um verdadeiro obst�culo. "T�nhamos liberdade do trabalho", lembrou Mariano Preto, explicando que os portugueses tinham terras agr�colas em Espanha e os espanh�is no lado de c�, o que fazia com que as autoridades facilitassem a passagem. "A conviv�ncia foi sempre a mesma, a fronteira nunca nos separou", garantiu Maria Lu�sa Preto. A coincid�ncia de apelidos � Também reveladora da afinidade entre os dois lados da raia: "� rara a pessoa da aldeia que não tenha fam�lia aqui", diz Mariano Preto, apontando para o lado espanhol. Com um p� em Portugal e outro em Espanha, os habitantes e autarcas dos dois lados oficializaram a criação do novo conselho, que funcionar� nos mesmos termos dos conselhos comunitários. A tradi��o j� não � bem o que era, mas os assuntos e trabalho de interesse geral para a aldeia ainda são tratados em conjunto. O rebanho comunitário � guardado alternadamente, todos tratam dos baldios e existe uma horta em que praticamente cada fam�lia tem um pouco de terreno, que � tratada no mesmo dia por todos. Segundo Mariano Preto, o que j� não se usa � a vara do conselho, um pau que servia para assentar (com riscos) os turnos ou as faltas cometidas, reunindo-se depois o conselho para aplicar o respectivo castigo. Os estatutos do novo conselho comum retomam este sistema, prevendo penas ou multas, mais ou menos severas, pagas em vinho ou produtos da terra, que servem para mais um conv�vio. O conselho será formado por habitantes dos dois lados e re�ne-se, pelo menos, quatro vezes por anos. A ideia � criar condi��es para resolver problemas comuns, aproveitando o apoio da União Europeia �s zonas fronteiri�as. Um lar de idosos ou um posto de Saúde são as principais ambi��es dos habitantes destas aldeias e, ao contrário do que � habitual, em matéria de Saúde os espanh�is saem a perder. Os habitantes de Rio de Onor portugu�s estáo a pouco mais de 20 quil�metros de Bragan�a, enquanto que os espanh�is t�m de percorrer mais de 100 quil�metros para chegarem a Zamora. Segundo Maria Fernandez, � o centro urbano mais próximo com condi��es para consultas m�dicas de especialidade. Comum a ambos � o problema das acessibilidades. Os portugueses utilizam estradas espanholas para se deslocarem entre Bragan�a e Miranda do Douro, os espanh�is v�o a Bragan�a para apanhar a via r�pida que os leva a Zamora. Mesmo assim, segundo Ana Maria Preto, "em Espanha vai melhor, porque são as pens�es (reformas) mais caras, pagam muito mais….".
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