Quer saber qual o mercado para onde mais se exporta o seu produto? Sabe quais as feiras mais relevantes para o seu segmento? Quais as tarifas cobradas nos diversos mercados a nível mundial, qual a tributação ou barreiras que lhe podem ser impostas, quais os canais de distribuição à sua disposição, os principais rivais e potenciais parceiros, as formalidades para entrar no mercado, quais as agências de publicidade e os influencers de cada mercado ou a imprensa especializada? A lista é infindável e está à distância de um clique, a partir desta segunda-feira.
A Aicep lançou uma nova plataforma digital, batizada “Portugal exporta”, que pretende ajudar as empresas portuguesas a exportar mais, mas também dar-lhes informação e aconselhamento customizado, com recurso à inteligência artificial.
A transformação digital da Aicep foi anunciada há 18 meses, aquando da apresentação do Plano Estratégico da agência e esta segunda-feira é apresentado o novo site, com as novas funcionalidades e serviços. O portal passa a disponibilizar toda a informação útil às empresas exportadoras num novo layout interativo para cada mercado, condensando toda a informação que até agora era apresentada de forma dispersa e que passa a ser atualizada em tempo real.
“Não é só fazer um site novo bonito”, explica Luís Castro Henriques. O presidente da Aicep sublinha que “a transformação não é muito diferente do online banking” e que as mudanças foram feitas “com e para as empresas”, “à luz do que os clientes da agência pediam”.
A grande novidade é a área privada a que cada empresa pode aceder através da introdução de uma chave móvel digital. A pessoa responsável da empresa introduz o seu número de telemóvel e o Pin e depois recebe um código de segurança no telemóvel que deve introduzir para aceder a uma área reservada.
Para já esta funcionalidade só está disponível para as empresas do calçado, mas ao longo dos próximos meses será alargada aos restantes setores, à razão de um por mês. Os têxteis lar; mobiliário e iluminação e os vinhos serão as áreas seguintes.
“Quando a empresa entra não temos de lhe pedir quase nada porque temos toda a informação através da Informação Empresarial Simplificada (IES), do Instituto Nacional de Estatística (INE) e o IMPI”, explica João Dias. Na área reservada, que é totalmente confidencial, cada empresa tem informações que lhe são especificamente direcionadas desde as feiras que mais lhe interessam, potenciais parceiros de negócio, ações comerciais e de capacitação, a mercados que deveria explorar, uma sugestão que é feita com base na Inteligência artificial que analisa o perfil de cada empresa, desde a sua dimensão, a sua situação financeira, maturidade e a sua dinâmica de vendas ao exterior. Por isso, duas empresas aparentemente semelhantes, que operam na mesma área, podem ter sugestões totalmente diferente, sublinha um dos vogais do conselho de administração da Aicep.
De sublinhar que estas sugestões têm “sempre uma validação humana”. “Temos os nossos analistas a ver se a sugestão feita pela Inteligência artificial faz sentido. Se a sugestão não for acertada, o modelo aprende com isso”, avança João Dias.
O gestor de cliente virtual questiona a empresa sobre o que ela precisa (encontrar um parceiro, exportar para novos mercados, etc) e depois a Inteligência artificial dá a resposta.
O portal tem ainda uma outra funcionalidade que é apresentar no final uma ficha para receber o feedback das empresas para ajudar a costumizar ainda mais a oferta e melhorar o serviço.
Uma casa digital de três milhões em construção
Esta “casa digital” ainda está em construção. O portal “Portugal exporta” arranca já esta segunda-feira — para já com a área reservada apenas disponíveis para as empresas do calçado — mas até janeiro de 2020 muitas outras funcionalidades vão ficar disponíveis.
Já em julho será facultada a funcionalidade do comércio online (Acelerador da Internacionalização Online), “um canal fundamental para muitas empresas” e vai ajudar a trazer mais empresas para o comércio digital”, frisa Castro Henriques. Em novembro será a vez do business match making ou Tinder das empresas, como o batizou a anterior ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leirão Marques e, finalmente, o portal do investimento em janeiro de 2020. Prazos que partem do pressuposto que não haverá qualquer complicação com os diversos concursos públicos envolvidos.
Simultaneamente a própria agência também vai sofrer alguma reestruturação para acomodar estas alterações.
Inicialmente o projeto deveria custar um milhão de euros, mas como foi possível obter financiamento comunitário para o projeto através do Sistema de Apoio à Modernização Administrativa (SAMA) o orçamento subiu ara três milhões de euros. “E possibilitou a inclusão no projeto do tinder da Aicep, que de outra forma estava totalmente fora do orçamento inicial”, explicou Castro Henriques.
Todo o projeto está a ser desenvolvido com a Tekever, mais conhecida pelos drones e por ter fabricado o primeiro satélite integralmente português, que tem a ser cargo a parte da inteligência artificial. “Numa analogia com o projeto de uma casa, a Tekever são os empreiteiros, a Cocoon são os arquitetos e a Grand Union são os pintores e decoradores de interior”, afirma Castro Henriques.
Além destas empresas encarregues do design thinking e revisão dos processos, para cada setor são escolhidas algumas empresas para testar as áreas privadas. No caso do calçado a escolha recaiu sobre a empresa de Luís Onofre, no segmento de luxo, na Kyaia de Fortunato Frederico, por ser um grande grupo, e na Undandy por ter uma grande presença nos canais digitais. Castro Henriques explica que o calçado é o setor que avançou em primeiro lugar porque “está muito bem organizado do ponto de vista associativo e trabalha bem a internacionalização, mas também porque foram os primeiros a voluntariarem-se para experimentar a ferramenta”.
Para os têxteis os testes já estão a decorrer e em vez de três, são quatro as empresas que estão a testar as diferentes funcionalidades para afinar a ferramenta, mas ambos os responsáveis preferem guardar segredo sobre os nomes das escolhidas.
Em última análise, o objetivo é aumentar o nível das exportações nacionais — atualmente em abrandamento — tendo como meta os 50% do PIB no início da próxima década — presentemente a fasquia está nos 44%, mas há dez anos era de apenas 27%. Por outro lado, a Aicep quer aumentar o número de clientes. Do universo de 44 mil empresas exportadoras, 15 mil já são clientes ativos da empresa, mas há mais 23 mil com perfil exportador. “A meta é aumentar o número de clientes sem aumentar o número de gestores de clientes”, diz Castro Henriques. “Todas as empresas passam a ter um gestor virtual e os gestores físicos podem passar a dedicar-se a atividades com muito maior valor valor acrescentado, em vez de passar quatro dias a atualizar fichas de mercado”, acrescenta.
“Não queremos que nenhuma empresa fique aquém do seu potencial”, sintetiza João Dias.