A agricultura “é essencial para nos protegermos dos incêndios” e garantir a segurança alimentar de Portugal, afirma Carlos Neves, da Ação Católica Rural. Perante o cenário de secas mais frequentes, o país tem que aproveitar a água melhor através de minibarragens e sistemas mais eficientes, defende.
Significa que os incentivos não são os melhores?
Eu não sei responder. É uma tendência geral. E, por exemplo, nós temos cada vez menos agricultores e as pessoas que saíram da agricultura foram para uma vida melhor, não as vamos criticar por isso. Mas agora não vamos pensar que elas vão voltar. Não vamos pensar que faz sentido agora vivermos com a agricultura de subsistência, que é o que às vezes algumas cabeças pensantes pensam. Não vamos passar a viver só da agricultura de subsistência, mas temos que encontrar um novo equilíbrio.
Como eu dizia no início, nós tínhamos um sistema equilibrado, mas da pobreza. Melhorámos o nível de vida. As pessoas vivem melhor, porque já não vivem em Portugal ou vivem melhor porque já não vivem no interior. E voltando um bocadinho aos incêndios, tem muito a ver com isso, com o abandono das culturas, com o abandono dos animais, com o abandono da população.
O que é que se pode fazer? Eu acho que há uma coisa simples que é conversar sobre o assunto, estudar o assunto e ver os bons exemplos, procurar os bons exemplos.
Não vê, então, a inversão dessa curva do despovoamento do interior?
Não, não vejo. Haverá algumas situações, mas eu não vejo. Eu sou um agricultor urbano, costumo dizer. Não estou no meio da cidade, mas estou aqui perto, aqui no litoral. Mas mesmo na minha atividade, na área da produção de leite, em cada ano há menos produtores de leite.
Há uma tendência de abandono e, nesta altura, até alguns com grande dimensão, que mudam de atividade. Que dizem: “se não me pagam, vou produzir outra coisa, vou produzir milho, ou vou produzir fruta, ou vou produzir amêndoa”, que é o que aconteceu no Alentejo, onde muitos deixaram os cereais para produzir, por exemplo, olival, que é uma cultura mais rentáveis.
E o que eu noto é […]