A freguesia de Merufe, em Monção, recuperou 42,7 hectares de floresta dos mais de três mil consumidos em 2017 pelos fogos e até 2024 tem de executar fundos de quase 1 milhão de euros em reflorestação, foi hoje divulgado.
“Em 2018, iniciaram-se os trabalhos de estabilização, após os incêndios, com intervenções focadas nas linhas de água, tendo sido intervencionados cerca de 42,7 hectares de galerias ripícolas, num valor total de investimento, já efetuado de 61.781,52 euros”, disse hoje à agência Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Merufe, no concelho de Monção, distrito de Viana do Castelo.
Eleito presidente da junta nas últimas eleições autárquicas, Fernando Pinto adiantou que aquelas intervenções “visaram a reposição de sinalética florestal, instalação de abrigos e comedouros para a fauna selvagem, a regularização do regime hidrológico, as linhas de água e a instalação de faixas de proteção através de plantação”.
Já em 2020, foi aprovado o Plano de Gestão Florestal da Unidade de Baldio da Freguesia de Merufe e, nos anos seguintes, foram aprovadas seis candidaturas ao Programa de Desenvolvimento Rural 2020.
A freguesia, com 864 habitantes, segundo dos dados provisórios do Censos 2021, garantiu um montante de quase um milhão de euros.
Os projetos formalizados em articulação com o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), enquanto entidade cogestora, estão, em fases diferentes. Três encontram-se em execução, um perto da conclusão e, dois, prestes a serem lançados a concurso público.
No dia 14 de outubro de 2017, as chamas deflagraram em Longos Vales, no dia seguinte estavam em Merufe. O fogo passou depois para Barbeita, e quando chegou à aldeia de Bela, saltou o rio Minho e, atingiu a Galiza.
Foi dado como extinto no dia 16, deixando um rasto de destruição em várias das 24 freguesias de Monção, no distrito de Viana do Castelo.
Naquele concelho arderam 3.550 hectares. Merufe, Longos Vales, Barbeita e Bela foram as freguesias mais atingidas.
Em Merufe, freguesia mais distante da sede do concelho, foram consumidas áreas de povoamento florestal, matos e alguma agricultura num valor total superior a três mil hectares.
Com “muito trabalho de reflorestação” pela frente, o autarca de Merufe está preocupado com as “zonas de difícil acesso” onde cresceu “uma praga” chamada “eucalipto”.
Fernando Pinto espera, “dentro de dois anos”, ter a reflorestação concluída, “isto, se, os fogos” não voltarem a consumir tudo, outra vez”.
“É o nosso grande receio. As matas estão grandes, ainda vieram com mais abundância, mais força, também porque, a nível de particulares, foram deixados os restantes, a matéria lenhosa. É uma das nossas preocupações. Se um incêndio vier devasta tudo novamente e já temos uma mancha muito bonita de pinheiro”, frisou.
O autarca garante que a aldeia vive “com o coração nas mãos, devido às elevadas temperaturas que fazem sentir, à falta de água de chuva e também à falta de limpeza de muitos particulares”.
Dos fogos de 2017, a pior imagem que reteve foi a da “aflição das pessoas rodeadas de fogo, e nada puderem fazer”.
“Todos os montes da aldeia foram fustigados. As pessoas diziam que era o inferno na terra”, sublinhou.
Já “a entreajuda entre os habitantes da aldeia” é o sentimento mais forte que guarda desses dias.
“As pessoas das zonas que não estavam a ser fustigadas pelo fogo vieram em auxílio, com tratores e tambores de sulfatar, cheios de água para ajudarem os bombeiros. Foi uma ajuda muito grande, senão teria sido muito pior”, lembrou.
Em março deste ano, o presidente da Câmara de Monção considerou que a reconstrução das casas do concelho afetadas pelos incêndios de 2017 “correu bem” e justificou a “derrapagem” na sua conclusão com a “rigorosa aplicação” dos fundos atribuídos pelo Governo.
Na altura, questionado pela agência Lusa, a propósito do relatório do Tribunal de Contas (TdC) sobre atrasos na recuperação de casas danificadas pelos incêndios de 2017, o social-democrata António Barbosa admitiu que o processo poderia ter sido mais “rápido”, mas referiu que “foi o tempo possível”.
Segundo António Barbosa, das 10 casas inicialmente identificadas como tendo sido afetadas pelos incêndios de 2017, apenas seis cumpriam os requisitos e receberam apoios à reconstrução.
Daquelas seis, três sofreram uma intervenção total e as restantes pequenos arranjos. O autarca do PSD disse que a recuperação das casas foi finalizada em meados de 2020.