Cerca de 70 tratores e de outros veículos começaram pelas 08:45 a sair do Bombarral em marcha lenta até Caldas da Rainha, distrito de Leiria, em protesto contra os problemas que a agricultura atravessa.
“Basta de lucros milionários à custa da produção”, “O nosso fim é a vossa fome”, “o fim da agricultura de hoje é a fome de amanhã”, lê-se em alguns cartazes que os agricultores levam nos veículos.
Há ainda outras frases, como: “Preços mais justos para produtores e consumidores”, “Estamos de luto”, “Não deixem a agricultura morrer”, “Sem agricultura não há futuro”, “Mais respeito pelos agricultores”, “Se o agricultor não planta a cidade não janta”, “Não matem quem vos mata a fome” ou “Exigimos concorrência justa na importação”.
“Cada vez mais estamos a andar para trás enquanto produtores”, lamentou Davide Silva, um dos manifestantes.
Para este agricultor, de 30 anos, o setor está a produzir cada vez menos por causa dos “baixos preços”, da “retirada de produtos no mercado” em prol de outros fora da União Europeia e da diferença de preços pagos ao produtor e pelo consumidor, ficando as margens de lucro para as grandes superfícies comerciais.
Marco Nobre, 37 anos, decidiu juntar-se ao protesto “pela forma como os agricultores têm sido tratados pelo atual Governo”, destacando entre os principais problemas a “concorrência desleal” de produtos fora da União Europeia que entram nos mercados nacionais e a burocracia no licenciamento de projetos destinados ao regadio.
Problemas sentidos também por Luís Aniceto, 48 anos, que fazem com que os produtores tenham “cada vez mais dificuldades em ter rentabilidade”.
Já Raquel Silva preferiu falar da “falta de condições para a produção de pera rocha, com falta de produtos químicos e a consequente dificuldade em combater as pragas”, assim como dos problemas de escoamento do vinho dada a elevada produção vitivinícola.
Esta agricultora, de 34 anos, esclareceu que os agricultores não pedem subsídios, mas ajudas à produção com a disponibilidade de produtos fitofármacos e reduções no IRS para terem “fundo de maneio”.
“A agricultura está a empobrecer a olhos vistos”, salientou.
Insatisfeito com a desigualdade de regras de controlo alimentar entre produtos nacionais e importados e de preços entre produtores e consumidores, Edgar Sousa, 45 anos, não vê outro futuro senão “protestar porque tem um filho na escola agrícola e não vê futuro para ele e terá de fechar a sua empresa”.
“Sou agricultor há 50 anos e nunca vi a agricultura como está agora”, disse, por seu turno, João Duarte, de 70 anos.
Para o agricultor, o facto de os “produtores venderem cada vez mais barato e os consumidores pagarem cada vez mais caro está a matar a agricultura”.
A marcha lenta é organizada pelo Movimento Cívico de Agricultores da Região Oeste, um movimento espontâneo criado entre os profissionais do setor na região.
Os agricultores deslocam-se em marcha lenta, pela Estrada Nacional 8, em direção a Óbidos e Caldas da Rainha, onde vão circular pelo centro da cidade, com passagem em frente à delegação do Oeste da Direção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo.